Vento nos cabelos

#vou_tecontar que esse é baseado em fatos (sur)reais.

Aeroporto de Congonhas, SP.

Ela chegou cedo. Check in feito, faltava mais de hora pro voo levantar.
Inquietação nos cabelos.
Não parava com as pernas, mas também já não andava direito.

Livraria, café, farmácia. Anador, Dramin, Rivotril.

Tinha perdido o rumo, o caminho de casa (e a casa), a linha do Equador, tinha perdido era o equilíbrio.

Um mês antes, festa, bolo, bem casado, cabelos compridos, cócegas no nariz, buquê nos ares e assinatura no papel.
Tudo dentro do figurino consensual.
Com firma reconhecida e marcha nupcial.

Escada rolante abaixo, banheiro e café (duplo) amargo – outro.

No dia seguinte, bom dia pra quem?, “eu sou miseravelmente infeliz”.
Dissonância nos ouvidos. Punhaladas na alma. E um ardor na profundeza das entranhas reviradas.
Porre de karma, ressaca existencial.

Água, bomboniere e nada de voo confirmado. Quem foi que disse que o tempo voa, hein?

Acabou, fim. “Você fica com a máquina de lavar e eu fico com a geladeira”. Simples assim.
Deleta as nossas fotos e trata de construir outras histórias. Como assim?
De renda francesa foi ao chão. A menina dos olhos virou o olho do furacão.

Duas trufas e, gente, que enjoo. Água na cara e que cara é essa no espelho do banheiro?
Já não tinha mais lágrima pra derrubar. Não tinha bem-me-quer mais pra querer voltar.

Passou pela barbearia, entraria de novo na livraria?
Passo atrás. Inquietação nos cabelos.
Porta adentro da barbearia. Dava tempo.

“Ah, não, isso eu não faço não, moça”.
Não bastava ter a alma em frangalho, o barbeiro também não queria trabalho?

Veio uma voz lá do fundo:

“Senta aí, minha filha. Deixa eu ver esses cabelos. É motivo de doença?”

– Não, de divórcio.
“E tu quer com emoção ou sem?”
– Com.
“Então aperta o cinto”.

Da testa pra nuca a máquina derrubou a inquietação por um instante.
Embarque imediato.
É hora de voar. Outra vez.

Porque cabelo brota feito planta n´alma.
E vai crescer mais brilhoso.
Mais forte e corajoso.

Pra balançar numa outra ventania.

E no fim de tudo,
Passado tudo,
Só resta é rir disso tudo.


E agora que eu já te contei, sugiro clicar nesse vídeo aqui. 😉 Aposto que vai fazer toda a diferença, ó:

Vídeo original: Cena Hum – www.cenahum.com.br
Agradecimento: Airen Wormhoudt, pela interpretação inesquecível. :p

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