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meu aniversário é na semana que vem

A persistência da memória, Salvador Dalí
a persistência da memória, Salvador Dalí

meu aniversário é na semana que vem. legal, vai acabar o inferno astral. tá, eu gosto de receber o carinho das pessoas. sim, eu aceito presentes. não, eu não gosto da passagem do tempo. ou melhor, eu não gosto de ver o tempo encurtando na frente e esticando pra trás. ou seja, eu não queria fazer aniversário. verdade, eu só queria uma outra dose de tempo. sabe, não é pelo colágeno que escorre pela mão. é que eu plantei a árvore, mas não fiz o resto da lição. não conheço uns continentes. nem experimentei o suficiente. tenho histórias me esperando. alguns projetos pra executar. e um rumo para encontrar. juro, eu não quero chegar antes, só aproveitar mais o caminho. até tenho algumas metas, mas sou o pior chefe que eu podia ter. daí o presente que eu queria mesmo ninguém pode me dar. tipo uns anos de brinde. então vou aceitar o calendário e brindar a passagem do tempo. porque não há nada que eu possa fazer. é bom mas é uma droga. entende? se vc não entende, sorte a sua. do contrário, que bom e que droga que vc me entende.

 


Foto: obviousmag.org.

 

Jejum pode desencadear estresse de repetição e reduzir limite de paciência

Você já leu a bula o título. Agora eu #vou_tecontar o drama de uma manhã em jejum. Mas pra você entender realmente o meu estado emocional, é importante antes clicar na trilha sonora pra deixar rolar enquanto lê. Combinado?

Oito da manhã no laboratório. 13 horas de jejum, pedido médico, identidade, senha, espera, preenchimento de ficha, questionário e blá, blá, blá.

40 minutos depois, minha vez.

– Qual o seu peso atual?

– Quase 50, tá no questionário.

– Desculpe, vc disse 50 ou 70? (pergunta a auxiliar distraída, enquanto coloca a luva)

– 50.

– 70? (enquanto pega uma agulha)

– O que é que você acha?

Então ela para, me olha de cima abaixo e diz:

– Você não tem 70 quilos!

– Pois é.

Feito o primeiro exame, sigo pro próximo.

– Bom dia. Me acompanhe, por favor. Qual o seu peso atual?

– Quase 50, tá no questionário.

– Certo. Você tem filhos?

– Não. Tá no questionário.

– Por aqui, por favor. Sem filhos, certo?

– Pois é. 

Eu já tava pensando se haveria uma diferença de sala e/ou procedimento pra mães X não-mães. Tipo céu X purgatório, castelo de cristal X a horda, chá de camomila com cookies X laxante com pó de mico, quando me aparece outra funcionária.

– Bom dia, senhora, pode me acompanhar. A doutora já vem. (guarda meu questionário numa pasta)

– Ok, obrigada.

– Peso atual?

– Tá no questionário, em torno de 50.

– Você tem filhos? (sai pra buscar alguma coisa)

– Não, não tenho. Olha, eu respondi o questionário.

– Então (volta pra sala), sem filhos?

(nesse instante eu inspiro fundo, bem fundo, o mais fundo que consigo. Expiro devagar, contando até dez)

– Moça, quantas vezes ainda vão me perguntar?

– É que é o procedimento.

– Então por que raios é que vocês pedem o questionário?

– É procedimento da recepção.

– E vocês não usam o questionário?

– É procedimento pra arquivo.

– Arquivo morto, né? Porque vocês parecem aquela tia-avó caduca que pergunta mil vezes a mesma coisa. 

– Ah, já te perguntaram?

– Pela última vez, moça: eu NÃO tenho filhos! Meu peso atual é perto de 50, não sei direito, era 47, mas eu ENGORDEI. E acho que vou ter que criar um procedimento e fazer um cartaz bem grande pras próximas pessoas que vão me perguntar, né?

– Tudo bem, senhora, fique tranquila. Ficar nervosa pode alterar o seu exame.

– Essa conduta de vocês também pode alterar o meu exame. Nada pessoal, moça, mas é pra isso que o papel existe aí na sua pasta, é só seguir o procedimento e verificar. Vai por mim.

(silêncio)

Ela sai da sala e eu escuto, no corredor:

– Doutora, a paciente aguarda lá dentro. Ela não tem filhos.

Não, eu não sou sempre assim.

É que eu tava em jejum.

E depois, na saída, a tia do café ainda me ofereceu dois sanduíches e dois capuccinos. Disse que eu estava abatida.

Mas eu não aceitei. Isso foge do procedimento.

E engorda. :p

 


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Edu, do vinho

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Ela estava no Pão de Açúcar escolhendo um vinho. Seria um Syrah ou um Pinot noir. Chileno, honesto e coerente com seus parcos conhecimentos sobre o universo etílico.

– Você quer ajuda?

#vou_tecontar que a voz à esquerda tinha uns 50 anos, visual cantor sertanejo, olhos intrometidos e um sorriso babado. 

– Não, obrigada.
– Gosto desse Merlot… recomendo para noites como a que teremos hoje.
– Você trabalha aqui?
– Não. É que eu te vi em dúvida, mexendo no celular. Moro perto.
– Entendi. Vou levar o Syrah. Até mais.
Tem certeza? Você tem mais jeito de Merlot, macio, frutado, a ser tomado jovem.
– Tenho certeza. Tem as notas que eu quero. Digo, musicais.
– Interessante essa harmonia… sabe, eu fiz curso de sommelier.
– Eu não. É uma experiência particular mesmo.
– Precisa de uma cobaia?
– Boa noite pra você.
– Edu. É meu nome. E o teu?
– A minha garrafa também já tem nome. E não é Edu. Tchau.
– Que pena, podíamos harmonizar bem.
– O senhor quer uma sugestão? Tenta a seção de CONGELADOS

Depois dessa, te sugiro clicar na trilha abaixo. E se vc for de riso fácil ou mesmo se o dia estiver meio chato, talvez você se divirta com o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=GQMIiQ6zYRI


Foto: arquivo pessoal.

 

Quem quer ser um bilionário?

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#vou_tecontar que quando a gente vê um ex-amiguinho de escola na lista dos 10 BILIONÁRIOS mais jovens de 2015 divulgada pela Forbes, acho que é absolutamente humano pensar…

 

1. Onde foi que eu errei?

.

2. Tive uma infância rica – e não sabia.

.

3. Alguém devia ter me explicado conceitos da teoria marxista lá no ensino fundamental. (naquele tempo era primeiro grau)

.

4. A culpa é dos meus pais. (ele tem sobrenome)

.

5. Perdi. (desculpa, mãe)

.

6. Quem disse que ele é feliz?

.

7. Ser bilionário deve dar trabalho.

.

8. Inveja, eu?

.

9. Ele era péssimo em educação física.

.

10. Que bom pra ele.

 


 

Foto: forbes.com.br

Rapunzel da chave OU Passarinho do oitavo andar

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Esses dias fiquei presa dentro de casa. Da minha própria casa.

O zelador veio entregar uma encomenda e eu não conseguia abrir a porta.

Tenho uma fechadura comum e duas trancas (moro num bunker desde um roubo à vizinhança), e uma delas não obedecia a chave de jeito nenhum.

Virava daqui, virava dali e nada de abrir.

Depois de uns 20 minutos de tentativa eu suava só de pensar que não podia sair.

#vou_tecontar como eu saí dessa, mas antes sugiro que você clique nessa trilha sonora aqui (só pra dar mais mais emoção e valorizar minha solução) :

Então o zelador sugeriu:

– Lília, passa a chave por baixo da porta que eu abro aqui por fora.

– Que nada, Seu João, debaixo da minha porta não passa carta nem barata. A coisa é estreita!

Logo olhei pra janela escancarada à direita… mas Tico e Teco se entenderam, afinal, oitavo andar não anima passarinho sem asa. 🙁

Cogitei chamar um chaveiro-resgate 24 horas e o zelador sugeriu que eu esperasse a manhã seguinte.

– Nem morta, Seu João, presa aqui eu não durmo!

E se o prédio resolve pegar fogo? E se eu acordo no meio da noite com um desejo incontrolável de comer açaí com banana? E se eu quiser correr sozinha de toalha pela rua? Eu sou livre, que droga de chave, cadê o Super Mouse?

Um minuto de silêncio, coração aos pulos e um plano improvisado.

E foi um rolinho de fita azul abandonado na última gaveta que me salvou. Amarrei a chave na pontinha, pedi ao zelador que esperasse lá embaixo e desci a bichinha pela janela lateral, no maior estilo Rapunzel da chave.

Missão cumprida, a chave girou e eu estava livre.

Viva o zelador!

!!!

E ninguém precisa saber que na manhã seguinte eu passei uns bons minutos tentando destrancar a fechadura que já tava aberta, né?

 

PS. dê valor àquelas “tranqueiras aparentemente inúteis” que ficam no fundo das últimas gavetas. Elas podem te salvar um dia 🙂


Foto: arquivo pessoal.

 

Mulhé muda é bença

Almoço na Vila Olímpia.

Fila no caixa. Dois funcionários conversam. Dólar que nada, o papo é mulher.

E a trilha sonora tá aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=h9mcSy_JxyM

– Daí todo dia ela pega aquele mesmo ônibus. Sempre quieta, na dela, sabe? Quando eu decido finalmente puxar papo, o cobrador me avisa que ela é muda. Pô, cara, acabou com a minha paquera de dois meses!

– Putz, véi. Maé gata?

– Ah é!

– Então o que tu tá esperano pra aprendê a linguagem de sinal?

– Você acha?

– Ou tu prefere voltar com a ex que fala pelos cotovelo? Cé besta? Mulhé muda é bença!

 

 

#vou_tecontar que almoço na Vila Olímpia sempre rende.

 

Meu encontro com Dr. Fábio

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Sábado de manhã. Espera sonolenta pra conseguir vaga no estacionamento de um centro médico em São Paulo.

#vou_tecontar que quando eu estou pegando o ticket com o manobrista, um carro praticamente “invade” a rampa e um jovem motorista desce “quente”.

– Ei, você tirou o cone de lá? Não pode, tá lotado (avisa o manobrista).
– Não quero saber, eu sou médico aqui. O resto é problema seu (e bate a porta do Palio).
– Mas não tem vaga. Não cabe(se desespera o manobrista).
– Se vira, eu tenho mais o que fazer (pega o jaleco no banco de trás e sai andando).

Nesse momento eu já estou dentro do elevador, a porta fechando, mas ele mete a mão e entra.

E ignora o ticket do estacionamento que o manobrista tenta entregar, em vão, pelo vão.

A porta fecha. E eu não me aguento.

– Seu nome é?
– Fábio. Dr. Fábio. Por quê?
– Só pra eu lembrar. De nunca passar em consulta com você. Bom dia.

E ainda bem que eu desci logo no primeiro andar.

Ou estaria aqui escrevendo “o dia em que apanhei no elevador”.

 

 

Deixo aqui uma sugestão de trilha sonora pra inspirar o Dr. Fábio. Quem sabe um dia, né?

 

 


Foto: arquivo pessoal.

 

Hoje não fez muito sentido – saudade NY

Desembarquei no aeroporto JFK. Finalmente tinha chegado o meu dia. Dia de botar o pé em NY e de ver “qualé que é”. Afinal, o que é que essa cidade tem que planta uma maçã no coração da gente?

Fui lá ver.

E hoje, 18 de setembro de 2015, faz exatamente um ano disso tudo. Tá rolando uma nostalgia, uma saudade, uma vontade louca de me teletransportar pra Manhattan em 3…2…1.

Mas não vou ficar aqui falando do quanto NY é incrível, vibrante e contagiante. Talvez isso você já saiba. Se não sabe, já leu por aí. Se não leu, ouviu relatos ou viu as figuras.

Eu #vou_tecontar como eu me senti ao voltar de NY.

Então segura aí um textinho que eu escrevi quando acordei de novo em São Paulo. Acho que o retorno de uma viagem dá a medida exata do impacto da experiência na vida da gente. Mais do que isso: ajuda a entender o que é que faz sentido.

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Hoje fui ao mercado e sabia onde tava tudo. Conhecia as marcas nas prateleiras e pude identificar facilmente cada item. Eu entendia 100% do que escutava no entorno, a conversa das pessoas, as reclamações sobre os preços, os murmúrios, as discussões de casal. A moça do caixa não me perguntou como eu estava me sentindo e se tenho o cartão da loja. Ela perguntou se eu queria CPF na nota. Eu não comi cupcake no café da manhã, não vi a manchete do The New York Times, não passei pelo Central Park, nem peguei o metrô com aquele medinho de errar. Hoje eu não olhei pro alto mais do que pro chão. Eu dei bom dia pro zelador, vi os velhos buracos na calçada e virei a esquina pro lado certo. Não tinha cores do outono nem decoração de Halloween no meu caminho. Hoje eu não planejei ver uma peça. Não visitei um bairro desconhecido. Não saí de roupa amassada e não comi nada que eu nunca tenha experimentado antes.

Hoje não fez muito sentido.

E deixo aqui uma trilha sonora clássica pra inspirar. Porque NY é um clássico. Tipo Sinatra. Que sempre alegra a vida da gente. 😉


Foto: arquivo pessoal.

 

O dia em que ele foi embora

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Foram 17 dias intensos. Acordando, tomando café-da-manhã, almoçando, jantando, dormindo… tudo juntos. Até que chegou o momento inevitável. O dia em que ele pegou um avião, cruzou o atlântico e voltou pra casa. Dele.

E #vou_tecontar que então tudo virou silêncio. Um só pote de sucrilhos na mesa. Nada de toalha molhada em cima da cama. Ninguém pra disputar a coberta. Ou pra conversar enquanto o sono não vem.

A casa estava vazia. Dela.

E esvaziou-se como uma atração turística após o expediente. Como um museu de grandes novidades depois que os visitantes vão embora. Como um palco quando terminam os aplausos, as luzes se apagam e alguém bate a porta.

Estava mais sozinha do que sempre. Mais esgotada do que a Cantareira. Mais na ressaca que no seu maior porre. Mais loser que aquele funcionário que sempre fecha a firma bem depois do expediente – porque não consegue dar conta no tempo regulamentar.

Era o fim.
Das férias.
Dele.

Um desfecho esperado, afinal, era paixão de verão. Era verão no hemisfério norte. E talvez eles nunca mais se verão. Talvez estejam condenados a viver como um trocadilho infame, que não se pode repetir porque soa mal. Como uma bota que não combina com o cinto e faz o look ruim.

Três da tarde. Hora de levantar, reagir, seguir em frente. Afinal, foram 17 dias e não 17 anos.

Uma rápida limpeza na casa, um breve surto de arrumação. Ela sempre acreditou que a organização também pode acontecer de fora pra dentro. Gavetas em ordem são um ponto de partida pra cabeça no lugar.

Lista de compras na mão, seguiu pro mercado. Na fila, viu que a moça do caixa conversava com um homem. Pareciam não se entender, ela estava contrariada. “Te pego na saída e acertamos os detalhes”, ele avisou.

Torrada, ricota, suco de caixinha, sucrilhos, capuccino. Cada item se arrastava na esteira lentamente, com o mesmo peso e preguiça que ela foi de casa pro mercado; como a moça do caixa passando os produtos vagarosamente pelo leitor do código de barras.

Opa, passou o mesmo produto duas vezes. Para tudo, chama a gerente, cancela, continua. A moça do caixa parecia abalada.

Estaria tão triste quanto ela?
E nesse caso a ordem das pessoas não altera a pergunta.

R$ 87,90. CPF na nota? Pagamento no débito. Ah, digitou crédito. Começa de novo.

“Desculpa, moça. É que tem dias que a vida pessoal interfere no trabalho da gente”, falou a caixa, cabisbaixa.

“E eu não sei?”, respondeu ela, errando a senha.

Nesse instante se olharam.

“É que ele terminou comigo, depois de 17 anos pediu o divórcio”, revelou a caixa, num suspiro.

E então escorreu uma lágrima.
De uma.
E de outra.

Se encontraram num choro triste e doloroso. Ali, bem no caixa do mercado, numa quarta-feira de inverno qualquer.

Constrangida, pensou em colocar os óculos escuros pra evitar que outros clientes vissem o pranto. Mas achou que seria indelicado com a moça do caixa. Deixá-la chorando sozinha nesse dia tão difícil. Afinal, foram 17 anos e não 17 dias.

“São R$ 87,90”, repetiu a caixa, engolindo o choro, o nariz vermelho.

Transação aprovada.

“Posso te dar um abraço?”

A caixa assentiu. Solidárias, se despediram entre ecobags.

E já na volta pra casa é que se deu conta. Nem perguntou o nome dela.

Mas tudo bem. Logo mais será verão no hemisfério sul.

Aguardem.

.

E enquanto o dia dela não chega, te deixo com esse vídeo aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=589U59Ofaok&feature=youtu.be

 


Foto: Aline Filócomo.

 

Relatos selvagens – o surto

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Chega um dia que você cansa.

Cansa de tomar buzinada de maluco quando dá seta e reduz a velocidade pra entrar na garagem de casa. Cansa de tomar xingo de idiota porque seu prédio não tem recuo suficiente pra esperar o portão da garagem abrir sem atrapalhar a passagem. Cansa de botar o braço pra fora do carro, em vão, quando vê um apressadinho se aproximando a milhão.

E #vou_tecontar que nesse dia você surta.

E o meu relato selvagem – o surto pede essa trilha sonora aqui, ó:

https://www.youtube.com/watch?v=7MvsI8hbMfQ

Então, nesse dia, você sabe que não deve, mas perde a linha – da boa educação e do Equador.

Você para o carro no meio da rua, abaixa o vidro do carro, abraça a cangaceira que existe em você e despeja o latim de quinta categoria.

Como se fosse a sua última missão nessa rotina de sertão.

C@&@/#&, eu reduzo a velocidade e dou seta, vc quer que eu solte fogos de artifício pra avisar que moro nessa $#&&@ de prédio e preciso entrar na m€#&@ da garagem que não tem uma £&$/@ de recuo? Precisa apertar a p#&&@ da sua buzina em cima de mim?  Vai se *&€%!!!!! (assim, com vaaaaaárias exclamações)

E nesse dia há um silêncio.

Um homem – o malfeitor – te encara com os olhos arregalados. Visivelmente desconcertado, balbucia alguma coisa, pede desculpas, se justifica.

Em pensamento você logo se arrepende, imagina o risco de brigar na rua. E se ele tem uma arma? E que feio, que deselegante, que falta de equilíbrio, gente, essa não sou eu. Podia ter xingado uma vez só, baixinho.

Daí ele bota a cara pra fora da janela e diz que você é muito brava – com acento no MÚ.
Mas muito linda – com acento no LÍ.

E o sujeito te convida pra um café.

(!)

Esse dia foi hoje.

E ainda é terça.

Melhor eu trabalhar de taxi amanhã?

 


Foto: Hypescience.com