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Morrer é sacanagem!

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Pessoas morrem.

Óbvio.

Acontece todo dia. Toda hora.

Mas quando acontece ao lado, bem próximo ou quando esbarra na nossa vida, assusta.

Pra caramba.

Porque cai aquela ficha da fragilidade da existência. Um elefante (dois elefantes, três elefantes, dez elefantes…) reaparece dentro da nossa cabeça e faz estrago pra lembrar que a vida se vai feito balão no vento. A vida dele, a minha, a sua. Ela vai. Esvai. Pluft. Um dia acordou e não tem mais.

E dias assim são diferentes de quando a gente vê na televisão (fulano morreu), escuta dizer (fulano morreu), lê (fulano morreu) ou simplesmente sabe que tá por aí (fulanos morrem).

Se quem morre é da família ou muito próximo, a gente meio que vai junto. A pessoa leva um pedaço nosso e a gente segue esburacado. O impacto é tão forte que a morte até muda a vida.

Se quem morre é colega ou conhecido, a gente entristece, pensa na família, se põe no lugar, adota discurso clichê, tudo pra tentar lidar com a indigestão da realidade.

Mas a morte nunca desce bem no nosso mapa mental, do lado esquerdo de Greenwich.

Se quem morre é velhinho a gente sofre pela porcaria da finitude.

Se quem morre é jovem, a gente sofre porque tinha a vida toda pela frente.

Se quem morre tava doente, a gente sofre porque foi morte sofrida.

Se quem morre tava saudável, a gente sofre porque foi morte imprevista.

Se quem morre vai de acidente, a gente sofre porque foi morte banal.

Se quem morre vai lentamente, a gente sofre porque foi morte dolorosa.

Não me venham com argumentos de “lei natural”, “os bons morrem antes”, “estava escrito”, “descansou” (esse é dos piores).

Morrer é sacanagem! – com exclamação.

A morte não causa só tristeza e saudade. A morte causa crise existencial em quem fica. Traz de volta aquelas perguntinhas que a gente não sabe responder direito e deixa por último nas provas da vida, tipo “o que é que eu tô fazendo aqui mesmo?”. Mas a gente faz esquema de vestibular. Não sabe, pula, vai pra próxima e diz que volta depois pra não perder tempo. Né? Muitas vezes não dá tempo. Daí a gente acaba “chutando” no final ou deixa em branco. E quando a gente vê, já foi.

Mas na vida alguns vão e ficam. Tô falando de gente que já morreu mas a gente trata como se ainda estivesse andando por aí.

Dá quase pra ver a figura tomando um café, comendo uma pizza, trocando ideia, escutando música.

Tipo Freud.

Freud tá em todas. Quase todo mundo conhece o cara. Ele tá nas mesas de bar, ele tá nas empresas, ele tá nas casas de família. É onipresente.

Freud não morreu. Tá, eu não vou citar o Elvis aqui (não sei quem eu citaria na música). Mas cito, sei lá, Lewis Carroll, Leminski, Aristóteles que vem depois de Platão, cito até o padre do balão. O Aristóteles tomando uma gelada com o padre, imagina?

Na internet, Clarice, Osho, Buda, CFA e até o Bial se misturam em atribuições. Até enchem o saco. Já não se sabe qual é a Lispector qual é a Falcão. Tudo meio morto-vivo. Tipo CPMF. E antes que me corrijam eu sei que o Bial tá vivo.

E eu poderia passar horas citando nomes e mais nomes que formam um exército do que eu poderia nomear de “existências perenes”. E não tô falando de espírito. Deixo a crença de cada um com cada um. Tô falando daquilo que fica. Da vida. Pra cada um.

Meu pai é um clássico pra mim. Morreu, mas tá por aí. Tipo Peter Parker, porque o heroi continua.

Sabe, de vez em quando me pergunto se a coisa aqui não é meio Caverna do Dragão.

A gente já morreu e nem sabe.

.

O que eu quero dizer com estas linhas?

Não sei.

Se eu soubesse não escrevia aqui.

.

Mas acho que preciso voltar naquelas perguntas.

As que deixei em branco.


Gif: me encaminharam e desconheço a fonte, mas parece ser marquinhoosmark.

Dois “Pai Nosso” e três “Ave Maria”

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Missa de primeira comunhão, década de 80.

Enquanto eu #vou_tecontar, sugiro que você coloque essa trilha aqui:

Ela estava longe dali. As palavras do padre não colavam naquela menina que foi ao catecismo para agradar a mãe.

Até gostava da capelinha, era simples, tranquila e cheia de plantas. A professora se chamava Tia Márcia e tinha cabelos bem armados, até parecia a Claudia Raia (Tancinha) na novela. Ela não era chata, mas também não era legal. E não sabia responder algumas perguntas dos alunos.

Uma vez a Tia Márcia expulsou um menino porque ele falou palavra feia na aula. Foi um escândalo. Quem não escutou ficou sabendo.

“Nossa, ele disse palavrão dentro da capela, a casa de Deus!”  

Deu pena porque, afinal de contas, se Deus era bom como a Tia Márcia dizia, por que ele não perdoaria o palavrão do menino? Mas a professora não perdoou. Ela ficou mais brava que Deus!

Entre cópias de trechos do Testamento no caderno capa dura e desenhos com passagens da Bíblia, ela gostava mesmo era dos intervalos porque subia nas árvores.

Durante as aulas, achava muito estranho porque não conseguia sentir o coração aquecido e a presença de Jesus ali, como a professora dizia e os coleguinhas assentiam. Se concentrava esperando alguma sensação física e… nada acontecia. Mas isso ela não contava pra ninguém porque, afinal, não queria ser a única criança que não tinha Jesus no coração!

No dia da foto também não sentia nada novo, o coração estava normal.

E mal escutava o que dizia o padre bem velhinho.

Ficou um tempão reparando nas pessoas. Percebeu que seu vestido estava com a barra curta demais em relação às outras meninas (dava pra ver a canela) e a coroa posicionada errada, tipo camponesa e não princesa, como as amiguinhas. Sem falar no cabelo que não assentava direito, ainda que tivesse escovado bastante. Só anos depois aprendeu que cabelos finos e ondulados como os dela devem passar longe da escova quando secos – se quiser evitar parentesco com Gal Costa.

Voltando pra missa, foi a primeira e provavelmente única vez que experimentou a hóstia. Fez o que mandaram naquele ritual, confessou pro padre (que parecia não ouvir nada) que pecou: brigou com a irmã que a provocou e estudou menos do que devia para tirar dez na escola.

Dois “Pai Nosso” e três “Ave Maria”, e ainda bem que ele não pediu “Salve Rainha” porque essa ela nunca soube de cor.

Amém.


Foto: arquivo pessoal.

 

Cucaracha’s revenge – a saga continua

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Eu já estava quase encerrando o expediente noturno, fechando arquivos, pensando na minha cama, quando vi a barata invasora.

Desta vez ela não entrou voando, mas despencou pela janela e caiu de costas (provavelmente um exemplar de categoria inferior no quesito voo livre).

Esperneou enquanto eu rapidamente executei os movimentos de guerra: chinelos, spray SBP, telefone e posição de ataque.

Logo a dita se recuperou do tombo e começou a caminhar pela sala. Por um instante a perdi, mas logo consegui contato visual com a inimiga, que era menor do que a parente do outro dia.

Respirei fundo e pensei: eu posso fazer isso.

Me aproximei (em pânico) e apertei o gatilho, quer dizer o spray.

E como no outro dia tive que perseguir a infeliz com o jato salvador.

Ela até tentou se esconder atrás de uma sacola, depois na porta da cozinha, suplicou por clemência, até que não resistiu.

Estrebuchou e logo jazia no cantinho.

Olhando o cadáver e tossindo pelo efeito do veneno, eu lamentei a batalha. Mais uma disputa territorial insana, pautada pelo medo e com uso de armas químicas.

Poxa, não sou de briga, foi legítima defesa.

Achei melhor fechar janelas antes que a família aparecesse para reivindicar o corpo.

.

E quem dormia depois disso?

 


Imagem: mundocool.com.br

 

“Você pode ser o que quiser, menos professora”

Dia do Professor na Escola. A pequena esquisita da direita sou eu, aprendendo a caminhar com minhas próprias pernas.
Dia do professor na escola – aprendendo a caminhar com minhas próprias pernas (sim, sou a esquisitinha da direita).

 

“Você pode ser o que quiser, menos professora. Professora não pode”.

É o que dizia minha mãe nos anos 80, 90.

Ela falava que a profissão não era valorizada. E acho que isso ela aprendeu na marra.

Ainda quando cursava Letras, ficava furiosa quando diziam que era “Faculdade-Espera-Marido”. Porque minha mãe acreditava que professor mudava o mundo, sabe?

Além de anos trabalhando na sala de aula, ela cursou Pedagogia e foi também coordenadora de ensino.

Quando eu tinha uns 6, 7 anos, estudei numa escola onde minha mãe trabalhava. No dia em que a professora de língua portuguesa faltava, era ela a substituta. 

Eu não gostava de ter aula com a minha mãe. Ela me chamava de “Maria Lília”, fazia cara de brava e me cobrava mais do que os outros alunos. Só porque eu era filha dela.

Quando eu tinha uns 10, 11 anos, minha mãe trabalhava numa escola pública em uma região muito pobre, onde as crianças iam pra escola “só” por causa da merenda. A qualidade do ensino ia ladeira abaixo e a violência começava tomar conta das salas de aula. Ela voltava triste pra casa.

Ainda nos anos 90, ela pediu exoneração. Jogou a toalha. Não aguentou aquele cenário.

Hoje ela faz outra coisa. Mas quando me perguntam “qual a profissão da sua mãe?”, eu respondo, com o maior orgulho:

Professora

Porque não existe ex-professora, né?

E quem tem sabe o privilégio que é uma mãe professora.

Certeza que isso fez diferença na minha alfabetização, no meu processo de aprendizado e me fez ganhar gosto pelas palavras.

Minha mãe professora me ensinou a fazer perguntas e buscar respostas, ainda que elas não estejam nos livros.

Eu não escolhi ser professora, como a minha mãe.

(eu não ousaria)

Virei jornalista.

(coitada da minha mãe!)

Eu até sou um pouco parecida com ela.

Tanto que se um dia eu tiver uma filha, vou dizer:

“Seja o que você quiser, menos jornalista. Jornalista não pode”.

E se a criança errar muita crase e concordância na lição de casa…

…eu vou chamar a minha mãe!

🙂

Porque seja dentro ou fora da sala de aula, professor muda o mundo, sim!

Feliz Dia do Professor!

.

Deixo aqui uma cena do filme “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989). Um clássico imperdível pra quem acredita que a educação pode mudar o mundo. Clica aí e Carpe Diem:

https://www.youtube.com/watch?v=vyds5y-d7oQ

 


Foto: arquivo pessoal.

A lagartixa bebê X o faxineiro parasita

Não para faxineiro no meu prédio.

O mais novo começou há cerca de um mês e meio. Relativamente jovem, usa calças jeans dois números maior, tênis de corrida e camisetas coloridas. Ele olha meio esquisito, fica acompanhando quando a gente passa. Tá sempre fumando um cigarro ou falando no celular.

#vou_tecontar que ainda não coincidiu de eu vê-lo com vassoura, balde ou pano na mão.

Daí, sei lá por que raios, outro dia encontrei o zelador e ele resolveu pedir minha opinião.

– Ainda não conversei com ele, mas parece boa pessoa, Seu João. (mandei minha “resposta padrão”)

– Mas você tem achado que o prédio bem limpo, Lília?

 

Droga, assim o Seu João não me ajuda. A lagartixa entrega, Seu João!

Silêncio. E um filminho.

 

E enquanto você acompanha comigo, sugiro colocar essa trilha aqui:

 

Duas semanas atrás, chegando em casa, abri a porta e uma coisinha correu pra dentro. Susto, pensei que era barata. Mas era uma lagartixa bebê. Aproveitou a oportunidade pra buscar abrigo.

Olhei bem pra ela e disse:

 – Vaza, minha filha, vaza que aqui não é teu mundo. Vaza!

Toquei a bichinha porta afora e tranquei.

Cinco segundos depois abri pra ver se ela estava bem. Tava no cantinho, quieta. Então pronto, vida que segue, ela vai caçar nas paredes da área comum, sair pela janela, se aventurar pelos andares e ser feliz.

Foi o que eu pensei.

Na manhã seguinte, quando saí pra trabalhar ela tava lá. Dei bom dia pra lagartixa e embarquei no elevador. À noite esperava encontrá-la, mas tinha sumido. Vazou. Esperta.

Esperta médio.

Porque na noite seguinte, quando voltei pra casa, ela estava jogada no degrau. Estática. Dei boa noite, abri a porta, entrei. Voltei três passos, fui conferir de perto. Ela estava morta.

Mor-ta. Esticadinha.

Poxa, que vida ingrata essa de bebê lagartixa. Senti uma pontinha de culpa. Porque eu botei ela pra fora, né? Teria tido uma vidinha melhor se eu a tivesse deixado dormir pra dentro?

“Bobagem, Lília. Você não saberia o que fazer com um bebê lagartixa dentro de casa”, disse o anjinho.

Embora eu não tenha nada pessoal contra lagartixas, sempre me afligiu a ideia de ter uma muito perto na hora de dormir. Medo da bicha escorregar do teto e cair gelada em cima de mim no meio da noite.

Sei lá.

O fato é que no dia seguinte os restos mortais ainda estavam ali. E no outro também.

Chegou o dia da faxina no prédio. Passou o dia da faxina no prédio. E ela continuou ali. Só que mais no cantinho, como um amontoado do que foi uma lagartixa um dia. Eu chegava, saía, ia, voltava e a finada ali.

Ou seja.

Cogitei eu mesma limpar, por uma questão de dignidade. Da lagartixa. Mas deixei como um teste. Pro faxineiro.

Nada.

Quase duas semanas depois, enfim, aquela coisa seca desapareceu. No mesmo dia em que encontrei um tapete diferente na minha porta. Quando coloquei a chave no trinco, olhei o tapete e, ops, a que ponto cheguei, será que errei de porta? Conferi o número do apartamento. Tava certo. Reconheci. Era o tapete o vizinho. Olhei pra trás, o meu tapete estava na porta dele.

Ufa!

Mas sabe que gostei mais do tapete dele na minha porta? Foi o suficiente pra eu decidir que é hora de comprar um tapete novo.

.

– Olha, Seu João, se o faxineiro é bom eu não sei. Só sei que tenho reparado que temos lagartixas no prédio. Os insetos tendem a diminuir. Ou não. 

Seu João ficou me olhando em silêncio. Com cara de quem pergunta se sou normal.

.

Daí essa semana reparei que o faxineiro sumiu.

Então descanse em paz, bebê lagartixa.

Obrigada por tudo.

🙂

E desculpa qualquer coisa.

 


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Hoje não fez muito sentido – saudade NY

Desembarquei no aeroporto JFK. Finalmente tinha chegado o meu dia. Dia de botar o pé em NY e de ver “qualé que é”. Afinal, o que é que essa cidade tem que planta uma maçã no coração da gente?

Fui lá ver.

E hoje, 18 de setembro de 2015, faz exatamente um ano disso tudo. Tá rolando uma nostalgia, uma saudade, uma vontade louca de me teletransportar pra Manhattan em 3…2…1.

Mas não vou ficar aqui falando do quanto NY é incrível, vibrante e contagiante. Talvez isso você já saiba. Se não sabe, já leu por aí. Se não leu, ouviu relatos ou viu as figuras.

Eu #vou_tecontar como eu me senti ao voltar de NY.

Então segura aí um textinho que eu escrevi quando acordei de novo em São Paulo. Acho que o retorno de uma viagem dá a medida exata do impacto da experiência na vida da gente. Mais do que isso: ajuda a entender o que é que faz sentido.

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Hoje fui ao mercado e sabia onde tava tudo. Conhecia as marcas nas prateleiras e pude identificar facilmente cada item. Eu entendia 100% do que escutava no entorno, a conversa das pessoas, as reclamações sobre os preços, os murmúrios, as discussões de casal. A moça do caixa não me perguntou como eu estava me sentindo e se tenho o cartão da loja. Ela perguntou se eu queria CPF na nota. Eu não comi cupcake no café da manhã, não vi a manchete do The New York Times, não passei pelo Central Park, nem peguei o metrô com aquele medinho de errar. Hoje eu não olhei pro alto mais do que pro chão. Eu dei bom dia pro zelador, vi os velhos buracos na calçada e virei a esquina pro lado certo. Não tinha cores do outono nem decoração de Halloween no meu caminho. Hoje eu não planejei ver uma peça. Não visitei um bairro desconhecido. Não saí de roupa amassada e não comi nada que eu nunca tenha experimentado antes.

Hoje não fez muito sentido.

E deixo aqui uma trilha sonora clássica pra inspirar. Porque NY é um clássico. Tipo Sinatra. Que sempre alegra a vida da gente. 😉


Foto: arquivo pessoal.

 

Ela teve que me engolir

Tanta gente postando sobre o dia do irmão, então ‪#‎vou_tecontar‬ uma curta historinha.

Era uma vez uma família – pai, mãe grávida e filha de 4 anos e tanto. Todos esperavam um menino chegar.

Então nasceu uma pequena, esquisita e prematura escorpiana (nos anos 70 os exames pré-natal não eram assim uma Brastemp).

O pai saiu da maternidade, foi pra casa e disse pra mais velha:

– Filha, nasceu!! É uma menininha.

– Ah, não, pai! Devolve!! Você me prometeu um menino.

FIM.

.

Ela teve que me engolir.
💙

 

Agora fica com essa trilha aqui:

Criança com faniquito

Histeria no elevador logo cedo.

E eu com dor de cabeça.

Pra essa historinha que  #vou_tecontar, acho apropriado vc clicar nessa trilha aqui:

A menina, de uns 3 anos, não queria aquele sapato.

A mãe com voz estridente tentava explicar -leia-se “convencer”- que o sapato é bonito e combina com a roupa.

A menina berrava.

A mãe apelou:

– Filha, pergunta pra essa tia (apontando pra mim) se o sapato não está lindo. Não tá, Tia?

A menina me olhou desconfiada.

Fui sincera:

– O sapato é legal, mas só fica bonito em criança boazinha. Criança chiliquenta tem que ficar descalça. No berço. Sozinha. E no quarto escuro.

Funcionou. A criança ficou muda. A mãe também.


Nota: texto de 2014. Antes que me julgue: acho desnecessário obrigar criança a usar sapato. Por mim ia de havaianas. E, claro, também acho um saco criança que berra no elevador. Pronto. Pode julgar agora. Beijo.

Eu só queria a minha Colgate

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E #vou_tecontar que não é merchan, é verdade.

Passada a meia-noite de um dia longo, do tipo que vira outro sem nem terminar. Momento “agiliza”, toma remédio, escova os dentes e desmaia até o sol raiar, ou o despertador tocar.

Pois queria.

Já meio de olhinhos fechando botei a Colgate Sensitive pra trabalhar.

Reforço: não é publicidade, é sensibilidade mesmo.

Pois era tchuque tchuque pra um lado e tchaque tchaque pro outro, quando começo a achar que a escova de dentes tá muito dura. Arranhando a gengiva, o cabo maior. Abro os olhos, tudo parece normal. De novo. Tchoft tchoft e não é possível que minha boca esteja tão sensível, gente! Paro tudo. Olho pra escova. Lavo a escova. Olho outra vez. Essa escova de dentes é minha? Poderia não ser? Fico olhando pra escova atentamente. Tá muito arregaçada, minha escova não é assim. E minha escova não é dessa cor. E minha escova da vez é uma Colgate, e essa escova não é Colgate.

 Juro que não tô ganhando nada da Colgate pra mencionar a marca três vezes (e no título), juro! Até prefiro a Curaprox, fica a dica se vc tem dentes sensíveis.

Desconfiada daquelas cerdas desencontradas, peguei uma escova nova no armário e separei a esquisitinha. Recomecei o processo do tchuque tchuque, escova na boca e cabeça voando. Que raios, eu moro sozinha, quem trocou a minha escova de dentes? E mais: de onde é que saiu essa porcaria velha? Repassei mentalmente o dia: trabalho, mercado, diarista, banco e… DIARISTA… será? Diarista, sim. Diarista, que merda. Diarista, só pode. Diarista, que ódio. Diarista, não acredito que ela fez isso comigo. Diarista, mas como? Nem precisei ser Sherlock. No tanque de casa tem uma escova de dentes pra limpeza. Uso pra lavar pias, ralos e locais que exigem atenção aos detalhes. Porque o diabo da sujeira mora nos detalhes, não é assim? Então. Elementar, meu caro leitor, a diarista fez o favor. O favor de trocar a minha escova de dentes com a escova do tanque. Ou seja, com a escova da pia, do ralo, dos detalhes, do diabo da sujeira. Sim, a escova que eu tinha ACABADO DE USAR pra LIMPAR os meus dentes SENSÍVEIS era a escova da pia, do ralo, do diabo das cinco milhões de bactérias, do sapólio, da cândida. Só isso. Depois fui ao tanque. Lá estava a minha Colgate. Macia, bela, formosa e ao lado do sabão de coco. *&¨$#%@”^!!!!!

“Eu MATO a diarista”.

Acho que eu falei isso umas cem vezes enquanto pensava nos efeitos da escova de limpeza na minha boca. E (re)escovei os dentes umas três vezes seguidas com a escova nova e muita Colgate enquanto pensava na pia, no ralo, no diabo das cinco milhões de bactérias, no sapólio, na cândida. E bochechei com Colgate enxaguante bucal sem álcool por 180 segundos enquanto pensava se vou ter uma septicemia ou ficar banguela. Alguém tem um antibiótico aí?

Terceiro produto mencionado, avisa a Colgate-Palmolive Company que eu mereço pelo menos um kit. Mas não vale incluir sabonete Palmolive, tenho alergia.

 

 “Eu MATO a diarista”.

Alguém aí sabe se trocar a escova de dentes da contratante dá justa causa?

“Eu MATO a diarista”.

Deixa ela voltar semana que vem. Deixa.

 


Foto: netdentista.com