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Hoje não fez muito sentido – saudade NY

Desembarquei no aeroporto JFK. Finalmente tinha chegado o meu dia. Dia de botar o pé em NY e de ver “qualé que é”. Afinal, o que é que essa cidade tem que planta uma maçã no coração da gente?

Fui lá ver.

E hoje, 18 de setembro de 2015, faz exatamente um ano disso tudo. Tá rolando uma nostalgia, uma saudade, uma vontade louca de me teletransportar pra Manhattan em 3…2…1.

Mas não vou ficar aqui falando do quanto NY é incrível, vibrante e contagiante. Talvez isso você já saiba. Se não sabe, já leu por aí. Se não leu, ouviu relatos ou viu as figuras.

Eu #vou_tecontar como eu me senti ao voltar de NY.

Então segura aí um textinho que eu escrevi quando acordei de novo em São Paulo. Acho que o retorno de uma viagem dá a medida exata do impacto da experiência na vida da gente. Mais do que isso: ajuda a entender o que é que faz sentido.

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Hoje fui ao mercado e sabia onde tava tudo. Conhecia as marcas nas prateleiras e pude identificar facilmente cada item. Eu entendia 100% do que escutava no entorno, a conversa das pessoas, as reclamações sobre os preços, os murmúrios, as discussões de casal. A moça do caixa não me perguntou como eu estava me sentindo e se tenho o cartão da loja. Ela perguntou se eu queria CPF na nota. Eu não comi cupcake no café da manhã, não vi a manchete do The New York Times, não passei pelo Central Park, nem peguei o metrô com aquele medinho de errar. Hoje eu não olhei pro alto mais do que pro chão. Eu dei bom dia pro zelador, vi os velhos buracos na calçada e virei a esquina pro lado certo. Não tinha cores do outono nem decoração de Halloween no meu caminho. Hoje eu não planejei ver uma peça. Não visitei um bairro desconhecido. Não saí de roupa amassada e não comi nada que eu nunca tenha experimentado antes.

Hoje não fez muito sentido.

E deixo aqui uma trilha sonora clássica pra inspirar. Porque NY é um clássico. Tipo Sinatra. Que sempre alegra a vida da gente. 😉


Foto: arquivo pessoal.

 

Sim, eu larguei tudo. E viajei.

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O Facebook hoje avisou. Há exatos 4 anos eu desembarcava em Londres. E depois em Cambridge. Com uma mala na mão, saldo do FGTS no cartão e medo de ter feito a maior besteira da vida.

“Tô velha pra isso”.

#vou_tecontar que eu tinha largado emprego, tinha pouca grana e uma dificuldade enorme pra entender o que aquela gente falava.

“WTF”?

Porque é nesse tipo de situação que a gente descobre que inglês intermediário no Brasil é analfabetismo funcional na Inglaterra. Nem o motorista de ônibus eu conseguia decifrar – aliás, especialmente o motorista de ônibus, ô pronúncia difícil.

“Precisa dessa batata na boca, me diz, precisa?”

Estranhei horrores, me perdi um monte, tive dor de barriga e chorei uns três dias.  Não gostei da escola de inglês, do professor indiano e da acomodação british. Era frio e cinza. Entrava aranha no meu quarto, a água tinha gosto doce, o fish parecia plástico e as chips nadavam no óleo.

“Socorro. Quero arroz, feijão e minha mãe”.

Mas eu não podia pegar um taxi e correr pra casa.

Uma semana depois eu conhecia os caminhos, tinha outro teacher, meia dúzia de amigos e trocava duas ou três palavras com o motorista. Fazia sol (simmmmm) e o clima era agradável (simmmmm).

“Até que isso é legal”.

Me encantei com os parques, os colleges, me entupi de doce e fast food, decifrei a timetable, fiz punting no Cam, mudei de endereço, bebia Evian, comia babybel no café da manhã, arranjei uma bike, visitei pubs, museus, restaurantes, vi Shakespeare, musical, peguei trem pra lá e pra cá, conheci gente de tudo quanto é lugar, fiz amigos de verdade, mil planos de viagem e estudei (um pouco).

“Upper Intermediate. Chá com leite e bolinhos in The Orchard”.

E enquanto a molecada se acabava nas compras eu convertia euros em passagens low cost.

“Essa bolsa aqui vale um voo pra Roma”.

Inglaterra, Holanda, Bélgica, Escócia, França, Itália, Espanha, Portugal.

Sim, eu viajei.

Fui muito bem tratada em Paris (juro), não curti pizza em Roma (prefiro de SP), curei sinusite com whisky em Edimburgo (where are you Nessie?), viajei num trem fantasma (pânico a cada estação), não senti o tal fedor nos canais de Veneza (teve gôndola), peguei ônibus que voa (Ryanair), rolei de rir nas ramblas (gordinha), não tirei foto na plataforma 9 ¾ (Harry Potter nãooooo), dividi quarto com 6 em Lisboa, com 4 em Amsterdã num hostel que ficava num bar e entrava marofa pela janela do banheiro.

“Advanced Level. I don’t want to leave anymore”.

Voltei pro Brasil meses depois. Com quatro quilos a mais, uma mala de roupas puídas, cutículas arregaçadas, machucados de bolhas nos pés, uns 30 euros no bolso e algumas das melhores lembranças da minha vida.

Fiquei sem grana e sem trabalho por um tempo. Sem compras, sem balada, sem manicure, sem quase porra nenhuma.

“Gorda, pobre, desempregada… em SP”.

Mas, sim, eu fui feliz.
E, sim, eu faria tudo outra vez.

E levaria uma mala ainda menor.
E viajaria ainda mais.

E mais.

Porque parecia a maior besteira, mas foi o melhor investimento da minha vida.

 


Foto: arquivo pessoal.