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Anjo da guarda dá plantão de domingo?

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Não foi o motorista, não foi a lei da física, não foi o ABS, não foi minha destreza ao volante que me ajudou.

#Vou_tecontar que eu tava cruzando a Amaral Gurgel, embaixo do minhocão. Farol verde pra mim, eu seguia devagar. Estava escuro, a pista molhada, ele cruzou o farol vermelho e veio em alta (bem alta) velocidade. Quando avistei aquele carro a milhão, vi que não dava tempo de acelerar nem brecar.

Deduzi que ele ia entrar com força na minha porta direita, não tinha como escapar.

Sei lá por que nesses milésimos de segundo passa um monte de coisas pela nossa cabeça. E eu pensei que nem precisava ser boa em física e aplicar uma fórmula de velocidade pra sacar que ia bater. Eu nunca fui boa em cálculo + tinha a resposta exata pra essa conta = ia bater.

E eu lembrei que ainda não recebi a apólice de renovação do seguro. Claro que eu lembrei da Porto Seguro que não me quis (será que ela tinha razão?), e lembrei da minha mãe, da minha família, do dia que eu tive e de todas as coisas que eu planejei pra vida.

Droga, justo agora?

Então eu apertei o volante com força pro carro não rodar e fechei os olhos. Eu pedi ajuda sei lá pra quem. Eu soltei algum som comprido e suspirado do tipo, “aaai”. Eu pensei: fer-rou!

De lá pra cá ainda tento entender.

COMO eu escapei dessa?

Como é que quando eu abri os olhos, o carro dele estava a 1 mm da minha porta direita e o resto era silêncio debaixo do minhocão?

Não me pergunte. Nem me pergunte como é que eu segui dirigindo até em casa depois disso.

Olha, eu já escapei de algumas batidas (e já tomei umas também) nessa minha rotina de paulista. Já vivi aquele “quaaaase”, “ufa”, aquele momento em que um rápido reflexo, uma freada, alguma manobra esperta te livra do B.O. e da franquia da seguradora.

Mas nada que se aproxime de ontem.

Então sabe aquilo que a gente sente quando recebe ajuda de alguém ou algo, sabe-se lá de onde ou como?

Pois é.
Gratidão.

Acho que anjo da guarda dá plantão de domingo.

Relatos selvagens – o surto

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Chega um dia que você cansa.

Cansa de tomar buzinada de maluco quando dá seta e reduz a velocidade pra entrar na garagem de casa. Cansa de tomar xingo de idiota porque seu prédio não tem recuo suficiente pra esperar o portão da garagem abrir sem atrapalhar a passagem. Cansa de botar o braço pra fora do carro, em vão, quando vê um apressadinho se aproximando a milhão.

E #vou_tecontar que nesse dia você surta.

E o meu relato selvagem – o surto pede essa trilha sonora aqui, ó:

https://www.youtube.com/watch?v=7MvsI8hbMfQ

Então, nesse dia, você sabe que não deve, mas perde a linha – da boa educação e do Equador.

Você para o carro no meio da rua, abaixa o vidro do carro, abraça a cangaceira que existe em você e despeja o latim de quinta categoria.

Como se fosse a sua última missão nessa rotina de sertão.

C@&@/#&, eu reduzo a velocidade e dou seta, vc quer que eu solte fogos de artifício pra avisar que moro nessa $#&&@ de prédio e preciso entrar na m€#&@ da garagem que não tem uma £&$/@ de recuo? Precisa apertar a p#&&@ da sua buzina em cima de mim?  Vai se *&€%!!!!! (assim, com vaaaaaárias exclamações)

E nesse dia há um silêncio.

Um homem – o malfeitor – te encara com os olhos arregalados. Visivelmente desconcertado, balbucia alguma coisa, pede desculpas, se justifica.

Em pensamento você logo se arrepende, imagina o risco de brigar na rua. E se ele tem uma arma? E que feio, que deselegante, que falta de equilíbrio, gente, essa não sou eu. Podia ter xingado uma vez só, baixinho.

Daí ele bota a cara pra fora da janela e diz que você é muito brava – com acento no MÚ.
Mas muito linda – com acento no LÍ.

E o sujeito te convida pra um café.

(!)

Esse dia foi hoje.

E ainda é terça.

Melhor eu trabalhar de taxi amanhã?

 


Foto: Hypescience.com