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Lá se foi o coelho

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Manhãzinha de segunda-feira.

Encerrando a função laundress, abaixo o varal já lotado pra estender a última peça de roupa.
#vou_tecontar que tava tudo lindo até eu me superar na função clown.
Fronha que nada! Agora eu derrubo é pantufa pela janela!
E lá se foi o coelho oito andares abaixo.
Ele que encarou a máquina de lavar ontem e estava cheirosinho em cima do varal, perto da janela pra pegar um (possível) sol.
Ele que mora no sofá e abriga os controles da TV e da Net.
Que outro dia até sofreu calado o ataque de um cão visitante.
Pobre coelho, despencou.
De orelha foi ao chão.
E lá fui eu fazer o resgate.

No maior estilo “foi sem querer, tomara que não tenha ninguém olhando”.

Sem testemunhas, ufa. Agora só vocês sabem.
E o coelho passa bem.

Acho.

 


Foto: arquivo pessoal.

 

O peeling e a mulherzinha que não mora em mim

 

“É um peeling de ácido retinóico”, me disse a doutora. “Você vai estranhar um pouco no começo, mas depois vai adorar o resultado”. Do jeito que ela falou, explicando o procedimento, acho que eu era a única mulher no mundo com mais de 30 que nunca fez um desses na vida. #vou_tecontar que me senti uma Pug desleixada.

 

E antes que você continue a ler essa história, sugiro clicar nessa trilha sonora óbvia aqui. Se você tiver a minha “faixa etária”, vai te fazer viajar no tempo:

 

Ok, topei. Vamos lá, se é pra bem, que mal tem? Preciso me cuidar, afinal de contas, já basta andar por aí largada e descabelada. E tava incluído no valor da consulta. De graça tudo fica muito mais legal, né?

Ela pincelou uma gororoba na minha cara e me mandou pra casa. Disse pra eu lavar o rosto dali quatro horas, impreterivelmente. Beleza, vai ficar uma beleza. Anotei todas as recomendações para os próximos 7 dias, quando eu voltaria a ter 27 anos (uhu).

“Compra a água termal, vc vai precisar”. Ok. La Roche Posay. “Se for sair, protetor 70 oil free”. Uhum.

Lavei o rosto na hora certa, tudo nos conformes, ainda era eu. À noite foi me dando um esquentamento. Uma vermelhidão. Mas tudo bem, ela tinha me avisado como seria.

Na manhã seguinte tinha uma figura estranha no espelho. Trocaram o meu rosto por um tomate enquanto eu dormia. Estava redonda e vermelha. “O segundo dia será o pior dia”, me lembrei da explicação. Beleza. Vai passar e voltarei a ter 27 anos.

Fui até o mercado. No trajeto, na fila dos frios, no caixa e a cada olhada que me davam eu quase escutava: “olha a idiota que foi pra praia e não usou protetor”. Devia eu contar que só uso 70?

Deixa pra lá, posso dizer que estava doidona em Ibiza se alguém me perguntar.

Eu toda encapotada no inverno paulistano e o termômetro do meu rosto marcava 40 graus. Ou mais. Uma borrifada de água termal pra me aliviar e a mulher ao lado manda: “É peeling, né?”. É, pois é, respondi, procurando uma brisa ou uma geladeira de sorvete nas proximidades.

No dia seguinte, eu já estava craquelenta, cheia de repuxamentos. Em seguida começou um descascamento incontrolável.

Numa visita à livraria pude sentir os olhares e questionamentos dos homens à minha volta: “Será que ela é doente? Será que isso pega?”. O moço do caixa, muito educado, fingia que estava tudo normal. Disfarçava enquanto provavelmente tentava entender a razão daquela pele pulando do meu nariz.

Acho que nesse dia entendi exatamente o que sentem as pessoas com deficiência sobre os olhares externos e a reação de pessoas que ignoram o que está evidente. É desconfortável quando te sorriem e fingem que não há nada de diferente quando, na verdade, há.

É tipo quando a gente olha pra alguém muito vesgo e não sabe em qual olho focar, mas disfarça, sabe assim?

Estranho e constrangedor.

Acho que é por isso que a doutora me disse que as pacientes geralmente fazem peeling nas férias, feriados, ocasiões em que ficam trancafiadas dentro de casa pra ninguém ver a cara delas. Depois voltam lindas e radiantes, os amigos elogiam e elas dizem que a pele tá boa porque são felizes e “bem amadas”.

Safadas.

E, vou te dizer, colega, não há água termal, base líquida ou protetor que disfarce um peeling desses. Parece que seu rosto quer se soltar de você, cair numa corrente de vento fresca e ganhar os sete mares.

Gente, nem quando eu tinha 10 anos e esquecia de repassar o protetor depois de horas na praia ficava desse jeito. Por que é que a gente faz isso com a gente?, pensei. Daí lembrei dos 27 anos e tratei de calar a consciência.

E não quero ficar reclamando muito porque já ouvi dizer que depois dos 40 ou 50 o peeling (mais forte ainda) deixa a pessoa com cara de quem se esfregou no asfalto. Gente, precisa?

Hoje eu acordei mais leve. Tinha bastante pele no meu travesseiro e, sabe, pele “velha” pesa, né? E junta ácaro. Então tratei de lavar logo a fronha e o rosto.

Agora tá melhor. Tô aqui esperando pra ver se em três dias voltarei a ter 27 anos.

Mas hoje ainda me sinto com 37. E no fundo eu sei que continuarei com 37. Com as mesmas crises, dúvidas e questionamentos de 37.

E, cá entre nós, completamente sem saco pra essas coisas de mulherzinha.

 

E pra lembrar que juventude e velhice não têm nada a ver com idade, deixo você com esse vídeo aqui:

 

Minha calcinha bege na gaveta de outra pessoa

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Foi estranho. Bem estranho. Ver uma foto do meu Instagram pessoal no Facebook de outra pessoa.

Sei que acontece todo dia, com tanta gente, com profissional e tal, mas aconteceu comigo, reles mortal.

Primeiro fez plim > opa, esse recorte de mundo é meu.
Procurei crédito, menção, referência, comentário. Nada. Nadica.

Achei feio. Entrei no Instagram da pessoa. E tava lá. A minha foto. Como se fosse dela. Com a minha legenda ruim e tudo. Compartilhada no Face e tudo.

Ei, ei, essa bobagem é minhaaa!!

#vou_tecontar que foi como encontrar a minha calcinha (bege) na gaveta de outra pessoa.
Sim, a bege. Básica. Cotidiana. Toda menina tem, mas cada uma tem a sua. A foto que muita gente já fez. Como um bolo de vó.

Não era eu na foto, claro. E a pessoa não é exatamente “amiga”, claro. Mas isso não é bacana, claro.

Né?

Parei pra pensar uns dez minutos.
Tentei isolar o signo solar. Sai, escorpião, a foto tá na rede, agora é do mundo. “Vamos dividir o bolo pra multiplicar”. “Nada se cria, tudo se copia”.

Lindo.

Mas não surrupiar. 

Né?

Bota lá as letras. Miúdas, que sejam. Uma @Fulana, tks. Aquele ícone de repost (que não sei como faz, acho que é um app). Ou então pega a receita, vai lá e faz o teu próprio bolo de vó. Clica por si mesma. Faz igual, se quiser. Será teu. O teu fubá. A tua imagem. Mas sem o sabor que só a vó pode dar. 

Sem a minha alma. 

Porque isso não dá pra imitar.

Na vida, na arte e na rede, é legal pra caramba ver uma coisa sua ser levada adiante pelas mãos de outras pessoas.

Contribuição, poxa! Reconhecimento!

E a gente faz isso de montão. Desde sempre. Mas que a fonte siga junto com a coisa. Criador e criatura. Mais do que propriedade intelectual, isso é essência. É o que dá sentido.

Ou, então, sei lá, entra num free images, usa uma foto de domínio público, dessas que não têm necessidade de citar a fonte. Sem crise, na honestidade.

A verdade é que enche o saco ver nosso whatever “roubartilhado” de um jeito ruim.

Mas é o tal negócio…

Se estamos aqui, estamos pra isso também. Damos a cara pra isso também.
Pra influenciar. Emaranhar. Provocar. Inspirar. Partilhar. Misturar. Confundir.
Pra “linkar”.
E, fatalmente, pra alguém te surrupiar.
É isso ou ficar mudo.
Sem mimimi.

Mas, pera, não é disso que eu tô falando.
Nem de direitos autorais na era digital. Nem da ABNT da citação da fonte. Nem da perda da aura. Nem vou chamar Susan Sontag. Nem tenho gabarito pra isso.

Tô só falando de mim.
De como foi encontrar a minha calcinha bege na gaveta de outra pessoa.
A minha foto, o meu olhar cotidiano, o meu ângulo da vida, o meu fragmento de realidade. Meu. Da minha biografia.
Mas foi pro no mundo. Agora é de outra pessoa.
E não porque ela também viu do mesmo ponto de vista. Mas porque ela gostaria de ter visto. E fez tudo errado.

Então deixo ela.

Só que da próxima vez, baby, dá o crédito. Cita a fonte. Dá um toque. Sinal de fumaça.  Uma arrobinha. É de bom tom. Faz sorrir. Vira homenagem. Soma. Canta pra subir.

Vaidade? Não. Caráter.

Porque não adianta subtrair.

Pro bem e pro mal.

O meu olhar.

Você nunca vai ter.

Ah, e experimenta só pegar uma foto melhor.

Uma calcinha colorida.  Pra você ver.

(assim diz o signo solar)

 


Foto: Peanuts na internet > itsburied | Tumblr. Já o ícone de repost é do iTunes (não sei se é domínio público, na dúvida eu cito). 😉

 

O primeiro anão a gente nunca esquece

Até então ela só conhecia a turma do Atchim e do Soneca. E aqueles de jardim.

E ‪#‎vou_tecontar‬ que foi numa loja de departamentos que ela viu desenho virar verdade (não, não tem delegacia na minha história, anão em delegacia é coisa de hoje em dia). 

Era Mesbla ou Mappin, não sei bem. A menina de uns 7 anos corria entre as araras. Mergulhava em tecidos, cores e texturas, enquanto a mãe escolhia algumas peças em tricô.

Era inverno em São Paulo e havia um mundo no meio daquele imenso guarda-roupa precificado. De cabide em cabide, a garotinha dançava (sim, tem anão e dança na minha história) e escolhia o figurino de sua estreia. Seria cantora, tipo a Madonna. Usaria preto, botas de couro e um casaco de pele.

Mas a canção era “Tuuuuudo Azuuuul, Adão e Evaaaa no Paraísooooooo…”. Porque a Madonna dela não cantava em inglês – ainda. E era inspirada no Pablo, de “Qual é a Música”.

E pra você entrar no clima, sugiro clicar nessa trilha aqui, olha:

https://www.youtube.com/watch?v=6xfgoACLkc4

Entre um Atchim e outro (não era anão, era ácaro), um flash do espetáculo. Agora só faltava a maquiagem. Um olho na mãe e outro no espelho e, nossa, que nariz vermelho. Não sabia inglês, mas já sabia o que é rinite. E que antialérgico dava Soneca.

Estava em bica, precisava assoar aquele nariz. Não podia entrar no palco daquele jeito, ranhenta. Só a mamãe poderia salvar o show.

Foi aí que aconteceu. Ela deu de cara com um anão. Um de verdade. A mãe ao lado e ela não desgrudava o olho daquela figura inédita. Não era o Atchim, não era de jardim. E num só instante, gritou pra mãe:

– Mãe, é um velho que não cresceu ou uma criança com cara de velho?

A mãe?

Fingiu que não conhecia aquela criança, que não era com ela, que nunca viu mais magra e mal educada. Até o anão ir embora.

Depois toca explicar pra criança que não se pode ser sincera sempre e que, de castigo, ela ia ficar sem comprar figurinha por uma semana. Figurinha era moeda corrente. Já o “politicamente correto” ainda não era moeda corrente no Brasil de 80.

Woody Allen com açúcar e sal

Esses dias fui ao cinema. Era Woody Allen <3, muita emoção.

#vou_tecontar que eu tava atrasada, o filme começando, aquela correria. Compra ingresso, pega água, pipoca média, um guardanapo, dois, coloca sal e… ops, era adoçante no envelope.

 

A-DO-ÇAN-TE.

 

Me doeu na consciência.

Porque errar com Woody Allen é pior que errar na final do Masterchef. Eu acho.

Ainda por cima derramei bem derramadinho, sabe assim, pra espalhar bem direitinho? Me fala quem foi que teve a ideia de colocar os envelopinhos de sal e adoçante lado a lado pra confundir a gente?

Ok, sem tempo pra lamúrias, peguei o sal de verdade, entrei na sala escura, cadê o meu lugar? Tinha gente. Pedi licença, sentei. Repirei.

Puxa, esqueci o óculos em casa. Mas tudo bem, eu consigo ver sem óculos, uso mais pra delinear os detalhes, as expressões, Woody Allen merece. Merece tudo. Merece pipoca, água mineral Evian (mas era Minalba, acho), óculos, casaco, até cobertor merece – mas isso eu não levei.

Ele só não merecia o meu erro. Merda, a pipoca ficou doce. Doce e salgada. Uma droga.

O filme andando e nada da pipoca se decidir. Peguei do meio, peguei da lateral, peguei do fundo… que droga de adoçante. Esse Linea tem mais presença do que qualquer sal Cisne que eu conheço. Até o piruá – a pipoca que não virou, ou seria a que se matou? – , tava indeciso.

Tá, eu ri.

Da pipoca, de mim mesma, do filme.

Ficou tudo assim-assim. A pipoca meio doce. A Emma Stone meio sem sal. A barriguinha do Phoenix com metade de açúcar e a outra metade de sal – bem adequado, aliás, pro papel. A professora Rita podia mais, tanto faz se açúcar ou sal, mas faltou. Já a filosofia toda ficou meio anêmica, tipo eu.

Decidi matar o saco de pipoca como um desafio até o fim do filme. E fiquei com sede. De mais. Diverti mas não surpreendi.

Só que é Woody Allen, então vale. Até com pipoca mais ou menos.

 

Qual era o nome do filme?

Acho que era A Lília Irracional.

Aquela que não consegue regular o açúcar e o sal.

 

Ops.


 

Ah, pega aqui o trailer do filme. Vale ver. Porque é Woody Allen <3.

 

Ela teve que me engolir

Tanta gente postando sobre o dia do irmão, então ‪#‎vou_tecontar‬ uma curta historinha.

Era uma vez uma família – pai, mãe grávida e filha de 4 anos e tanto. Todos esperavam um menino chegar.

Então nasceu uma pequena, esquisita e prematura escorpiana (nos anos 70 os exames pré-natal não eram assim uma Brastemp).

O pai saiu da maternidade, foi pra casa e disse pra mais velha:

– Filha, nasceu!! É uma menininha.

– Ah, não, pai! Devolve!! Você me prometeu um menino.

FIM.

.

Ela teve que me engolir.
💙

 

Agora fica com essa trilha aqui:

Criança com faniquito

Histeria no elevador logo cedo.

E eu com dor de cabeça.

Pra essa historinha que  #vou_tecontar, acho apropriado vc clicar nessa trilha aqui:

A menina, de uns 3 anos, não queria aquele sapato.

A mãe com voz estridente tentava explicar -leia-se “convencer”- que o sapato é bonito e combina com a roupa.

A menina berrava.

A mãe apelou:

– Filha, pergunta pra essa tia (apontando pra mim) se o sapato não está lindo. Não tá, Tia?

A menina me olhou desconfiada.

Fui sincera:

– O sapato é legal, mas só fica bonito em criança boazinha. Criança chiliquenta tem que ficar descalça. No berço. Sozinha. E no quarto escuro.

Funcionou. A criança ficou muda. A mãe também.


Nota: texto de 2014. Antes que me julgue: acho desnecessário obrigar criança a usar sapato. Por mim ia de havaianas. E, claro, também acho um saco criança que berra no elevador. Pronto. Pode julgar agora. Beijo.

Sobre como eu desisti do piano

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Outro dia, na manicure:

– Lília, você tem unhas lindas, parecem longas mesmo quando estão curtas. Ah, vamos só dar uma lixadinha, não corta, senão fica até dolorido embaixo. (…) #vou_tecontar, Lília, acho que mais metade desse salão gostaria de ter mãos como as suas.

O piano já vai entrar em cena, então sugiro colocar essa trilha sonora aqui, ó:

1989, nas aulas de piano:

– Lília, eu gosto muito de dar aulas pra você. É uma menina que sabe escutar e tem mãos de pianista, com dedos longos e finos. Só precisa praticar um pouco mais em casa, solfejar todos os dias… e cortar as unhas. Unhas compridas batem nas teclas, atrapalham o desempenho ao piano.

– Lília o que são essas bolhas na sua mão?
– Aula de tênis, professora, a raquete me faz bolhas.
– Nossa, Lília, precisa tomar mais cuidado, não vá machucar os dedos ou não conseguirá tocar piano, viu?

– Lília, o que há, você não está indo bem hoje?
– É que eu tô com dor na mão, professora, ontem foi campeonato de vôlei na escola…
– Lília, vôlei e piano não combinam, está bem? E você é muito pequena pra jogar vôlei.
– Mas eu jogo na rede…
– Você precisa cuidar das suas mãos para tocar piano. Protegê-las… e cortar as unhas, não se esqueça, viu? Vamos ficar mais na teoria hoje.

– Lília, muito bem, a aula hoje foi boa, você evoluiu bem na Sonata. Mas vou escrever aqui no seu caderno: não esqueça de cortar as unhas.
– Mas, professora, eu cortei ontem. Se cortar mais dói, fica vermelho, sai até sangue. Minha mãe disse que está bom assim.
– Lília, precisa ficar mais curtinha, unhas grandes não servem para o piano.

– Lília, o que aconteceu, você está machucada? Seu pulso está roxo…
– É que foi na aula de teatro, professora, eu torci. É assim mesmo, acontecia também na ginástica olímpica, só esse pé eu torci sete vezes.
– Lília, você tem uma estrutura muito delicada pra isso, precisa tomar cuidado. E lembre-se de cortar mais as unhas, querida, ainda estão muito grandes, viu?

Lília largou as aulas de piano.

Lília vendeu o piano.

Lília nunca mais tocou piano.

 


Foto: pt.cantorion.org

 

Barata voa. E apavora

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Noite quente em São Paulo. Janelas escancaradas e eu bonitinha respondendo e-mails.

Eis que… uma barata entra pela janela.

Feia e gigante. Apavorante.

#vou_tecontar que a invasora se instalou na parede lateral.

Susto.

Olhei pra ela e pensei rápido, muito rápido: cadê o telefone, vou chamar o zelador.

Mas o telefone estava longe de mim – perto dela. E eu, descalça, desarmada.

Ela bateu as asas barulhentas e veio com tudo na minha direção, em linha reta, na altura do meu rosto, num ataque frontal.

Gritei e pulei da cadeira – não necessariamente nessa ordem. Dois metros em um segundo. Não lembro da última vez que dei um berro assim, a plenos pulmões.

Me senti a louca do oitavo andar, mas só depois. Antes, peguei o veneno e descarreguei com vontade ma barata. Mesa, cadeira, chão, parede… perseguindo a agonia da intrusa mal educada até seu último mexer de antenas.

E o cadáver está lá, no cantinho.

Agora sim, me sinto a louca do oitavo andar.

Com medo da família da Dona Barata vir reivindicar o corpo.

 


A foto que ilustra o texto me foi enviada por pelo menos três amigas depois que eu contei essa história. Desconheço a fonte, mas agradeço a inspiração. 😉

 

Parecia um sonho bom

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O cenário era lindo. Europeu. E eu tinha na mão uma passagem aérea. Parecia um sonho bom.

Finalmente um sonho bom!

Mas #vou_tecontar que a passagem tava toda errada. Era de um voo que tinha saído 6 horas antes. E que faria em 14 horas um trecho de 2h30. Tinha uma travessia de barco, de jipe, só faltava conexão pra pegar jegue.

Frio na barriga.

Acordei, dormi de novo e a história continuou. Sabe assim?

Eu ligava pra Gol (era Europa mas era Gol, sonho permite esse tipo de incoerência, né?), mas não conseguia resolver, não conseguia trocar a passagem, não conseguia nada.

O próximo voo custava umas dez vezes mais. E a moça insistia que àquela altura eu tinha que estar no barco. Porque de acordo com o sistema eu tinha embarcado.

– Moça, eu juro que não tô no barco, moça. Não foi isso que eu comprei.

Ela não aceitava a realidade. E eu não aceitava aquele trajeto de maluco, uma viagem torta que começou antes mesmo da passagem chegar na minha mão.

Eu queria um próximo voo. Queria resolver aquilo. Queria seguir adiante.

Como terminou?

Com a moça da Gol me dizendo, com aquela voz de aeroporto, que eu teria que me entender comigo mesma. (!)

Porque, sim, eu estava naquela viagem que já tinha começado.

E se eu quisesse seguir um trajeto diferente seria problema meu e não da companhia aérea.

E eu não poderia arcar com um próximo voo.

Parecia um sonho bom.
Parecia.

 


Imagem: Wikipedia.org