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O mistério da meia desaparecida

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Os dias em São Paulo têm sido frios. Muito frios. Não sei você, mas eu sofro no frio. Abomino dormir sem poder me mexer direito na cama porque na área ao lado existe um iceberg. E sem poder levantar pra ir ao banheiro sem desejar uma bexiga extra nem que me custe o dobro. A verdade é que, pra mim, se passou de um edredom virou Alasca.

Não me entenda mal. Frio pode, sim, ser legal. Mas não na rotina de São Paulo, numa vida sem preparo nem calefação. Frio é legal em Paris, Londres e Nova York. Frio é legal quando você tem 2 Kg a menos pra comer fondue de chocolate sem dó. Garrafas de vinho bom e fígado em dia. Ponto.

Dito isso, preciso dividir com você um acontecimento, no mínimo, curioso, pra não dizer logo misterioso: #vou_tecontar que um pé de meia sumiu. Desapareceu. Sem deixar rastro nem bilhete.

E não foi na máquina de lavar (porque eu sei que máquinas de lavar possuem um portal que levam meias desparceiradas para o fantástico mundo das meias e nunca mais devolvem. Lá elas se libertam de suas obrigações sociais e formam novos pares, sem restrições de cor, tamanho ou origem).

Pois bem, vou explicar o caso pra que você possa me ajudar, quem sabe, a decifrar. Ou terei que chamar Sherlock.

Ocorre que ontem estava frio, como você deve saber. E eu usava uma meia quentinha pela casa, de modo que tava tudo sob controle com meus pés. À noite, na hora de tomar banho, eu tirei a calça antes de tirar a meia. Deixei a meia por último porque meus pés ficam gelados muito facilmente.

Daí que a calça engoliu a meia. A meia do pé direito escorregou e foi ao chão. Mas a meia do pé esquerdo não. A meia do pé esquerdo desapareceu na calça. De início, eu achei que ela tinha ficado presa na perna da calça e seria facilmente resgatada. Virei do avesso. Nada. Olhei pelo chão, debaixo da cama, atrás da mesinha (quem sabe teria sido arremessada à distância)… pois nada.

Cara, a meia SUMIU!

Pois fui tomar banho, peguei minha mantinha, tomei um chazinho, respondi e-mails. Pensando na meia. Antes de dormir, procurei de novo. Porque às vezes a coisa tá no nosso nariz e a gente não enxerga, né? Nada. Eu dormi pensando naquele pé de meia. Capaz até de eu ter sonhado com uma meia rindo da minha cara.

Hoje cedo, vasculhei o quarto novamente. Que raios, onde foi parar essa droga de meia? A janela nem tava aberta pra ela escapar! O fato é que agora o pé de meia direito está sozinho. Sem par. Descombinado. Praticamente um inútil em sua existência “meiística”.

Sim, eu tenho outros pares de meia. Vários. Quase todos iguais, inclusive. O que me incomoda não é “abrir mão” de um par de meia ou usar meias descombinadas. O que me incomoda é esse desaparecimento sem explicação. Essa piadinha de duende. Essa tiração de sarro de espírito de porco. Esse desafio à minha sanidade mental em pleno dia se semana.

Pô!

Daí, quando a diarista chegou, eu apresentei o pé direito pra ela e disse: se você encontrar o outro pé dessa meia aqui, ganha um doce. Ele está desaparecido desde ontem, por volta das 20h30, no meu quarto. Valendo. Boa sorte!

E saí pra trabalhar. Com meias listradas e compridas. Porque são mais difíceis de escapar. Acho.

Agora tô aqui sentada, na frente do computador. E adivinha o que não me sai da cabeça?

 


Foto: apartmentguide.com

Horinha do adeus

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Eu assinei um papel. Depois desejei boa sorte.

E fiquei parada na calçada, olhando ele se afastar rapidamente até dobrar a esquina. Então eu dei meia volta nos calcanhares, respirei fundo, caminhei algumas quadras e peguei o metrô. Assim eu me despedi do meu velho carrinho hoje na hora do almoço.

#vou_tecontar que detesto despedidas.

Ainda que seja só um carro, sim, é só um carro, mas era o meu carrinho-amigo.

E enquanto eu caminhava, lembrei do quanto ele foi parceiro, do quanto caminhamos juntos.

Mais de 5 anos e 30 mil quilômetros. E olha que ele já não era um jovem quando veio pra mim. Era um adulto de 60 mil quilômetros rodados e 6, 7 anos de uso. Eu vinha de uma sequência de dois carros furtados, sustos e um baita prejuízo (felizmente apenas material).

Logo que eu comprei, minha avó me deu essa proteção (foto), que habitou o retrovisor desde então. Hoje, quando eu a tirei de lá, apenas agradeci. Com a energia do que representa (cada um com a sua crença), com o bem-querer da minha avó, com o pensamento positivo, ele me trouxe uma fase melhor.

Finalmente com esse carro eu tive sossego sobre rodas. Nunca me desapontou nem deixou na mão. Passou em todas as inspeções veiculares (sem ter que estudar), me levou e me trouxe de tudo quanto foi lugar (sem reclamar). Me escutou rir e chorar. Passou no farol verde, amarelo e até vermelho (culpa minha). Andou na terra, no paralelepípedo e no asfalto. Tomou algumas multas de velocidade, de rodízio e uma de estacionamento proibido.
E nunca se queixou.

É ou não é um super brother?

E quando eu esvaziei a carteira de documentos, ainda achei uma listinha de desejos para 2010 (!), que ficou guardada ali. Rapidamente pude verificar, item por item, quantas coisas boas eu realizei de lá pra cá…

– terminar a pós-graduação (check);
– pintar o apartamento
da mami (check);
– ter mais vida social (check, mas precisa melhorar);
– sorrir mais (check);
– rir muito mais (check);
– mais saúde (check, tirando a dengue);
– praticar mais atividade física (check, pilates always);
– emagrecer 2Kg (fail, as always);
– viajar mais (check, 2011 teve Europa 😀 );
– tirar férias (check, mas falta melhorar aqui);
– trocar de trabalho (check naquela época);
– seguir em frente com independência (as always); 
– ser mais generosa (check, assim espero);
– ver minha família mais feliz (check, acho);
– trocar de carro (cá estou eu novamente, veja só);

e outras coisitas mais, que eu guardo aqui pra mim.

É isso.
Vida que segue.

Vai, carrinho, vai fazer alguém feliz.
Obrigada pela caminhada and Don´t Stop!

😉

Sobre persistência e a elegância de voar sozinho

Bem-te-vi - pitangus sulphuratus, pelas lentes do meu Tio-fotógrafo-passarinheiro Marco Guedes.
Bem-te-vi (pitangus sulphuratus), pelas lentes do Tio-fotógrafo-passarinheiro Marco Guedes.

 

Manhã de feriado, 21 de abril em SP, 8h50.
Bem-te-vi.

Um bem-te-vi perto da janela chamava. Ninguém respondia.
Tentou uma, duas, três. Nada.
Silêncio.
Insistiu. Uns 4 minutos.
Em vão, cantou na solidão.
Uma melodia que ninguém completou. Nem pássaro, nem gente.
Sabe como é: um fala, outro responde e alguém manda a frase completa? Então, #vou_tecontar que não teve.

Sua tentativa solitária foi enfraquecida por periquitos em algazarra. Aquela gritaria de comadres, sabe?
Uma falando em cima da outra, levantando a voz, ninguém parece se entender, mas depois fica tudo bem.
Alguém sabe se periquito tem ascendência italiana?

O fato é que a turminha – se bem me lembro, o coletivo de passarinho deve ser revoada ou passarada, mas vou chamar de turminha mesmo – , a turminha tinha pulmão.

Mas fiquei mesmo é pensando no bem-te-vi.
Falando sozinho numa manhã encalorada de feriado outonal.
Foi de uma persistência admirável.
Louvável.

E melancólica.

Logo sua fala foi duramente abafada pelo som de um motor histérico. Tipo uma Brasília velha na ladeira.
Mas se esse modelo de veículo automotivo te remeteu de alguma forma ao Planalto Central, por favor esquece. Pensa num fusca velho e tudo bem. Ou num cortador de grama.

O bem-te-vi enfim soube que era hora de desistir.
De seguir em frente e, com elegância, apostar num voo solo.
Esperto o bem-te-vi.
Mais esperto do que muita gente.

 


Foto: Bem-te-vi (pitangus sulphuratus), por Marco Guedes.

Eu preciso de um plano

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Eu preciso de um plano.

Preciso de um plano pra levantar na segunda-feira. Um plano pra sair e pra voltar pra casa. Preciso de um plano simples, banal, corriqueiro. E também um plano complexo, elaborado, um plano de longo prazo.

Porque não se vive sem um plano. Um planinho que seja. Até mesmo pra desistir, pra mudar, pra protelar, é preciso de um plano.

Ah, mas é tão legal não seguir o planejado, fugir da rotina, da cartilha, do que diz a agenda; nada como poder mudar de ideia, afinal, não há nada como improvisar! O improviso é libertador.

Sim, é.

Mas só se pode improvisar em cima de alguma coisa. Se não há base não há improviso. Quanto melhor a sua base, melhor o improviso. Não se engane. Até o improviso mais descompromissado tem muita técnica e trabalho por trás. Acontece às custas de muitos planos já executados. Veja o jazz, veja a pintura, veja a interpretação. A qualidade do improviso é quase diretamente proporcional ao que foi um dia planejado.

“Disciplina é liberdade”, já dizia a canção. Tá, essa foi fraca e eu nem planejei isso. Foi um improviso ruim, construído em cima de uma base frágil, tá vendo?

Mas quero dizer que a liberdade do improviso é nada mais que uma consequência. É conquista do trabalho árduo e disciplinado do plano levado a sério.

Por isso eu digo que preciso de um plano. Ou vários.
Nem que seja pra estragar, pra desfazer, pra jogar fora e improvisar em cima.

Um plano de carreira. Um plano de previdência. Um plano pro presente. Um plano pro futuro. Um plano pro fim de semana. Um plano pra ver aquele filme no cinema. Um plano pra ir ao teatro. Um plano pra fazer alguma coisa. Um plano pra fazer coisa alguma. Um plano de viagem. Um plano pra dormir mais cedo. Um plano pra acordar mais tarde. Um plano pra tirar férias. Um plano tático. Um plano de ir até a esquina comprar banana prata. Um plano pra pagar o INSS. Um plano de gestão de recursos financeiros. Um plano de crise também. Um plano pra cortar o cabelo. Um plano pra trocar de carro. Um plano pessoal e intransferível. Um plano pra arrumar aquele guarda-roupa bagunçado. Um plano pra uma vida mais saudável. Um plano pra um bolo de cenoura saudável, talvez. Um plano pro resto da metade da vida. Um plano B ou C ou até mesmo D. Um plano pra retomar um plano esquecido na gaveta. Um plano para fazer planos. Um plano pra aprender alguma coisa nova. Um plano pra não me abalar com a maldade das pessoas – e são muitas, as maldades e as pessoas. Um plano pra realizar um plano cada vez mais distante e difícil. Um plano pra enfrentar os dias ruins. Um plano para comemorar os dias bons. Um plano pra me livrar de uma dor. Um plano pra viver um amor.

Um plano pra levantar na segunda-feira.

É isso.
Hoje eu preciso de um plano.

E eu nem quero dominar o mundo.
Só quero sobreviver no meu mundo.

E poder improvisar.

 

 

 


Foto: ZineCultural

Sim, sou estranha


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Hoje mandaram inbox na rede social.
Disseram que eu sou estranha.
Pois é.
Não sou mesmo uma pessoa comum. Digo, aqui. Na rede social.
Porque a minha vida, bem… a minha vida não é assim “incrível”.
Porque eu não acordo linda, penteada – e com filtro. Na verdade eu odeio acordar.
Porque eu não saio divando, no salto e com cabelos ao vento. Eu sou aquela que tropeça e o cabelo entra no olho, sabe?
Porque eu não frequento balada todo fim de semana. Na real, quase nunca porque eu não tenho paciência.
Porque eu não faço check in em lugares badalados semana sim, semana também. Aliás, check in pra mim é aquilo do balcão de embarque e da recepção do hostel – muito de vez em quando.
Porque eu não tiro férias no paraíso três vezes por ano. Mas se eu pudesse tirava, viu.
Porque eu não tenho dois mil amigos pra marcar numa foto. Eu sou de poucos – amigos.
Porque eu não recebo flores, declarações de amor e homenagens todo santo dia. Mas vale registrar que quando/se rola é legal – e quase sempre eu guardo pra mim.
Porque eu não tenho uma família de comercial de margarina. Senão eu pedia pra sair – da família e do comercial.
Porque eu não perco 5Kg em 1 semana, nem tenho barriga tanquinho. Eu sou gulosa e malho menos do que deveria.
Porque eu não tenho opinião sobre tudo e sobre todos, seja oposição ou situação. Eu não tenho partido, gente.
Porque eu não curto essa coisa de “ou você está comigo ou está contra mim”. Acho um porre.
Porque eu não patrulho a vida dos outros. Eu mal dou conta da minha.
Porque eu não quero ser youtuber. Até porque, vou dizer, eu não sou exemplo pra ninguém.
Porque tem um monte de coisas da minha vida (maravilhosas, felizes, boas, ruins, tristes e até medíocres) que eu não quero contar nem mostrar.
Porque eu não quero falar de ovelha hoje.
Então, sim, eu sou estranha.
Pra caramba.

Ainda bem.

Você esqueceu de você

 

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Você troca os nomes dos colegas,
Você esquece de comprar água pra casa,
Você já tá na expressa da Marginal, com chuva e trânsito, e percebe que esqueceu algo importante laaaaaaá no estacionamento do trabalho,
Você pega a primeira à direita e dá um branco no caminho de retorno,
Você esquece a roupa de molho no amaciante dois dias,
Você esquece a chave de casa pro lado de fora da porta,
Você esquece que não comprou comida e lembra que não tem janta,
Você meio que esquece da dieta e decide pedir pizza – mas você pede pizza light (aham),
Você desce pra pegar a pizza e esquece o cartão de crédito,
Você volta, pega o cartão e esquece que o elevador social tá quebrado – e você leva uns bons minutos pra lembrar que esqueceu, 
Você passa o cartão e esquece a senha,
Você relembra a senha e esquece da gorjeta.

Enquanto o motoboy te avisa:

– Moça, sua blusa tá ao contrário.

 

Pois é.

Você esqueceu de você.

 

#vou_tecontar que é melhor esquecer esse dia, né?

 

Então vou fazer feito música chiclete que a gente quer cuspir da ponta da língua. Vou chamar outro som, virar o disco e te deixo com uma  que por acaso tá na minha cabeça há dias também. Não me pergunte o motivo. Eu esqueci. Acho.

 


Foto: makeameme.org

 

Anjo da guarda dá plantão de domingo?

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Não foi o motorista, não foi a lei da física, não foi o ABS, não foi minha destreza ao volante que me ajudou.

#Vou_tecontar que eu tava cruzando a Amaral Gurgel, embaixo do minhocão. Farol verde pra mim, eu seguia devagar. Estava escuro, a pista molhada, ele cruzou o farol vermelho e veio em alta (bem alta) velocidade. Quando avistei aquele carro a milhão, vi que não dava tempo de acelerar nem brecar.

Deduzi que ele ia entrar com força na minha porta direita, não tinha como escapar.

Sei lá por que nesses milésimos de segundo passa um monte de coisas pela nossa cabeça. E eu pensei que nem precisava ser boa em física e aplicar uma fórmula de velocidade pra sacar que ia bater. Eu nunca fui boa em cálculo + tinha a resposta exata pra essa conta = ia bater.

E eu lembrei que ainda não recebi a apólice de renovação do seguro. Claro que eu lembrei da Porto Seguro que não me quis (será que ela tinha razão?), e lembrei da minha mãe, da minha família, do dia que eu tive e de todas as coisas que eu planejei pra vida.

Droga, justo agora?

Então eu apertei o volante com força pro carro não rodar e fechei os olhos. Eu pedi ajuda sei lá pra quem. Eu soltei algum som comprido e suspirado do tipo, “aaai”. Eu pensei: fer-rou!

De lá pra cá ainda tento entender.

COMO eu escapei dessa?

Como é que quando eu abri os olhos, o carro dele estava a 1 mm da minha porta direita e o resto era silêncio debaixo do minhocão?

Não me pergunte. Nem me pergunte como é que eu segui dirigindo até em casa depois disso.

Olha, eu já escapei de algumas batidas (e já tomei umas também) nessa minha rotina de paulista. Já vivi aquele “quaaaase”, “ufa”, aquele momento em que um rápido reflexo, uma freada, alguma manobra esperta te livra do B.O. e da franquia da seguradora.

Mas nada que se aproxime de ontem.

Então sabe aquilo que a gente sente quando recebe ajuda de alguém ou algo, sabe-se lá de onde ou como?

Pois é.
Gratidão.

Acho que anjo da guarda dá plantão de domingo.

O desastre sou eu

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Eu derrubei suco de uva no tapete da sala. Chutei o copo. Tenho mania de deixar copo no chão, ao lado do sofá, sabe? Chutei o copo e ele virou. #Vou_tecontar que o suco derramou todo em cima do tapete, por entre o barbante e ainda escorreu todinho pelo chão. O copo estava cheio. O suco era bom.

E de repente eu tinha 10 anos de idade. Olhando aquele suco arroxeado que eu derrubei em cima do tapete da minha mãe. Na sala de casa. Era noite. E a sensação foi exatamente igual. Um choque percorreu o meu corpo quando vi o do líquido roxo sobre o tapete claro. O estrago feito. Será que mancha?

Hoje existe Vanish, o poder O2. Quando eu tinha 10 anos, não.

Eu tinha 10 anos e a culpa não foi minha. Foi ela que me provocou. A irmã mais velha, claro.  E ainda fez terror psicológico. Disse que a mancha não sairia nunca mais. Que a mamãe ia ficar muito brava. Que o tapete era de estimação. E que ia dizer que eu fiz de propósito. Foi tanta informação que eu escrevi uma carta. Uma carta pra minha mãe. Pra quando ela chegasse da festa, tarde da noite, soubesse por mim a verdade dos fatos. Lembro que escrevi com lapiseira 0.5, contei que não tive culpa e pedi que me perdoasse. 

Tentei ficar acordada pra explicar a carta. Criança redundância. Só que não aguentei. O sono venceu. Mas eu dormi com medo. Não da bronca, mas da decepção da minha mãe pelo meu desastre.

Hoje também foi um desastre. Mas hoje foi tudo culpa minha. Eu sou o desastre do tapete da sala, agora meio roxo, dentro do balde, com sabão em pó e Vanish poder O2.

Eu sou um desastre e de repente parece que os meus copos derramam para além dos tapetes, com gotas que não saem com o poder limpador e deixam marcas por toda parte.

A minha mãe não liga pro tapete da sala, acho que nunca ligou. Ela não brigou, não se decepcionou quando eu tinha 10 anos. E na casa dela hoje nem tem tapete. Mas o meu tapete de barbante foi ela que fez. Esse que tá dentro do balde, ainda meio roxo (acabei de olhar) com sabão em pó e Vanish poder O2 (dei uma chacoalhada pra ver se rola um efeito).

Mãe, a culpa foi minha. Hoje foi. 

Eu não tenho lapiseira 0.5, mas tô escrevendo no iPad. 

E toda vez que eu chuto um copo ou meu copo transborda, eu tenho insônia. Só quero não me decepcionar com o meu desastre. Como quando eu tinha 10 anos. 

Naquele tempo não tinha Vanish poder O2. Mas era tão mais fácil acordar no dia seguinte.

 


Foto: Vanish Brasil.

PS. Juro que não tem jabá. Mas depois eu conto se a mancha saiu.

 

 

 

 

Você não quer, tem quem queira

Rejeitada.

É como eu tô me sentindo hoje, desde umas 19h15 pra ser mais exata. Foi quando entrou na minha caixa de e-mail o orçamento do seguro do carro.

E #vou_tecontar que não é a primeira vez.

Tem acontecido todo mês de fevereiro. Desde 2011.

Lembro de cada episódio, de cada expectativa seguida de frustração. Porque rejeição a gente não esquece, né?

Pois é. A Porto Seguro não me quer.

Ela me rejeita. Todo ano eu tento, negocio, peço ajuda do corretor, mostro meus predicados e minha CNH limpinha. Mas ela sempre me manda um valor mais de R$ 1 mil acima da concorrência. Tipo um recado: “não feche conosco, não te queremos, aqui você é persona non grata”.

Gente, por quê?

Eu juro que queria entender o motivo de tanto desinteresse na minha pessoa. 

Alô, sou moça direita,  dona Porto Seguro!

Há pelo menos 5 anos  que não registro um sinistro. Eu não bato lata em ninguém. Nem tomo. Sou boa motorista, embora a amiga diga que eu dirijo feito homem. Sou prudente e dou seta – sim, eu dou seta, dona Porto Seguro! Eu não atravesso farol vermelho antes das 23h. Não estou na faixa etária de risco. Tenho garagem em casa e estacionamento no trabalho. Eu pago os impostos em dia. Eu quase não tomo multas, só vez ou outra tenho problema com o velocímetro, coisa besta. Meu carro não é visado e eu rodo pouco.

Eu diria que a minha vida sobre rodas é quase um tédio, não fossem as emoções típicas do trânsito paulistano. Então não aceito esse desdém de seguradora. Poxa, sou boa pagadora!

E ainda sou ex-cliente. Sim, eu já fui desejável. Você me tratava bem, na hone$tidade. Fomos felizes por um longo tempo. Fui fiel e devotada desde meu primeiro carro até 2010. Até que naquele ano roubaram meu carro novo. E o amor acabou. Você me rejeitou por um, dois anos e ad infinitum. No começo o corretor disse que era porque perdi bonificação. Mas que o tempo resolveria a questão. Nada. De lá pra cá eu tento uma reaproximação. Em vão. 

Passei por outras duas seguradoras, mas queria você, Porto Seguro. Apesar de que eu nem uso o seguro, mas, sei lá, queria você de volta, só isso. Eu nem dou trabalho, não fico pedindo atenção nem telefono no meio da noite.  A única vez que incomodei sua concorrente nos últimos dois anos foi quando a bateria morreu. Veio um moço de moto e trocou. Cobrou caro. Fim.

Assim você me magoa, Porto Seguro.

Como é que um episódio tão antigo, tão infeliz (porque eu também sofri e tomei prejuízo) pode ter marcado tanto nosso relacionamento?  A ponto de você nunca mais me querer por perto, resistir às minhas investidas e ignorar minha ficha limpa, minha conduta quase impecável.

Olha que eu sei de muita gente que você atende e dirige alcoolizado por aí, com pontuação estourada e manobra alucinada. Não vou citar nomes, mas depois não reclama da crise e da falta de sorte com a clientela.

Anota aí o meu nome, Porto Seguro. Porque você acaba de me perder.

Tentei por 5 anos. Agora eu que não te quero mais!

Sou de escorpião. Não tem perdão.

Amanhã vou abraçar seu maior concorrente. 

Vou ser feliz e quero que você se exploda. 

Digo isso pra não ter que pagar terapia.

Cabô a Rejeição.

Na ordem do dia: você não quer, tem quem queira. 

 

Da série Vale Refeição – episódios anteriores

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Depois de um longo e valoroso home office, volto a almoçar na Vila Olímpia alguns dias da semana.

Logo na primeira sentada no quilo já passa um filminho na cabeça. Tipo um remember com as cenas mais emocionantes dos episódios anteriores, aquela coisa que rola antes de começar uma nova temporada, sabe como é? 

Então achei oportuno resgatar três dos ‘melhores momentos’ da Série Vale Refeição

É uma série independente que não tá na Netflix, só na minha cabeça mesmo. Mas eu #vou_tecontar tudo aqui! 

E antes que você credite os meus relatos à inveja PJ do VR alheio, antecipo: eu nem queria mesmo!

Mas acabei de lembrar por que foi que eu comecei a levar marmita pro trabalho.

Pega aí:

 

QUE MUNDO, AMIGOS!

Almoço na Vila Olímpia. Na mesa ao lado, executivos: um homem e três mulheres. De repente, o papo muda de rumo e o assunto vira o filho de alguém. 

O homem:

“Agora o moleque não sabe se quer cinema, artes cênicas, essas coisas aí. Maior besteira. Não tem que fazer faculdade dessas coisas. Se quer fazer coisa de arte, se não tem jeito, que faça cursos variados, fora do Brasil. E, olha, se depender de mim não vai fazer. Depois vira petista frustrado e vai pra rua fazer manifestação. Ou vira jornalista”.

Acelerei a garfada. Pra segurar a boca.

Que mundo, amigos. 

Que mundo.

 


MULHÉ MUDA É BENÇA

Almoço na Vila Olímpia. Fila no caixa. Dois funcionários conversam:

– E todo dia ela pega aquele mesmo ônibus. Sempre quieta, na dela. Quando eu decido finalmente puxar papo, o cobrador me avisa que ela é muda. Pô, cara, acabou com a minha paquera de dois meses!

– Putz, véi. Mas é gata?

– Ah é!

– Então o que tu tá esperando pra aprendê a linguagem de sinal?

– Vc acha?

– Ou tu prefere voltar com a ex que fala pelos cotovelos? Cé besta? Mulhé muda é bença!

(…)

 


CHARLIE SHEEN DA VILA OLÍMPIA

Almoço na Vila Olímpia. Restaurante novo, assunto velho. Na mesa de trás, três homens na faixa dos 40 e duas mulheres na faixa dos 30.

Homem 1 – …daí eu levo pro matadouro, que é o meu apartamento, e pronto. As de 35, 37 que têm filhos querem casar, querem estabilidade.

Homem 2 – Enchem o saco, né?

Homem 1 – Tem que saber levar, cara. Já as outras nessa faixa são as melhores. Mas dão trabalho. Porque são exigentes, cheias de vontade, não aceitam qualquer coisa.

Homem 2 – Aí vai uma energia.

Homem 1 – Teve uma de 26 e outra de 28 que eram mais fáceis. Uma delas era um avião e eu até tentei namorar um tempo. Era boazinha e tal. Meio burrinha, mas não me dava trabalho. Só que não rolou.

Homem 3 – Cara, você é o nosso Charlie Sheen!

Homem 1 – Por isso eu decidi que vou ser um solteirão frustrado mesmo. Investi no carro, no apê bacana, que impressiona a mulherada quando chega lá, cê precisa ver, e sigo no matadouro.

As mulheres da mesa?
Riram – alto.

Eu?
Tô cogitando trazer marmita pro trabalho.
Economizo pras férias e ainda faço uma dieta.

 


Fica aqui uma possível trilha sonora para acompanhar esse remember.  Mas vou deixar solta. Não me peça para enveredar por alguma teoria psicanalítica e explorar o que são essas aspirações do desejo, necessidade e vontade. De comida, bebida e tal.


Foto: diap.org.br