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Quando depois da tempestade vem o medo de outra tempestade

Dia de home office em home alheia – já que a minha ficou avariada depois do temporal.

Fim de expediente e volto pra botar as coisas em ordem. Tem luz no prédio e a garagem não tá mais com meio metro d´água. Tirando o elevador desligado porque o poço tá cheio, #vou_tecontar que o edifício voltou ao normal nesta segunda-feira. Dou mais uma passada de pano com desinfetante na sala e confiro o piso laminado ondulando. Cortinas sujas, parte do parapeito da janela e rodapés meio que se desmanchando, sofás ainda úmidos por baixo.

Começo a lavar as toalhas e panos usados ontem na secagem. Foram três baldes cheios de água tirados no braço durante cerca de duas horas, com pressa antes de anoitecer. Se um dia eu construir uma casa acho que vou fazer um ralo perto da sala. Assim dá pra puxar água com rodo.

Raios e trovões me interrompem. Repetidamente. A canina PixieDixie, que nunca teve medo de trovão, me pede carinho e começa a olhar pra janela, insistentemente. Eis que vai até lá conferir alguma coisa. Parece que a experiência de ontem já foi suficiente pra ela associar trovão com água entrando pela janela.

E então fico com receio de outra tempestade. Penso: se acontecer de novo, nem tenho pano seco pra segurar a água. E, putz, eu ainda tô com as costas arregaçadas de ontem. E tenho um monte de coisas pra fazer, não rola acabar a luz. E, cara, vai que a janela começa a desmontar?!

Assim como ontem, logo volto o meu pensamento pra aqueles que vivem alagamentos de grandes proporções, alagamentos que arrasam moradias e deixam as pessoas sem ter pra onde voltar. Aqui do alto do oitavo andar onde eu moro, num bairro nobre de São Paulo, direciono o meu olhar quase burguês para os personagens dos telejornais (digo “quase” porque burguês que é burguês não tem a casa semi-alagada num domingo).

Se eu sinto receio aqui no oitavo andar de Pinheiros, depois de uma amostra-grátis-compacta-e-de-consequências-mínimas, imagino o que essas pessoas sentem quando o céu começa a dar espetáculo. E depois quando a história se repete.

Voltando pra minha vidinha, vou lá pendurar os panos no varal pra ver se secam até amanhã cedo. Planejo improvisar uma vedação nas janelas antes de sair pra trabalhar. E se “pá” vou comprar uma boia de patinho pra PixieDixie.

Porque essas histórias não acabam aqui (nem as bobinhas da minha rotina, nem as mais trágicas da realidade ao lado). Ainda tem muita chuva pela frente até as águas de março fecharem o verão.


Crédito da imagem: terapeak.com