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Parecia um sonho bom

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O cenário era lindo. Europeu. E eu tinha na mão uma passagem aérea. Parecia um sonho bom.

Finalmente um sonho bom!

Mas #vou_tecontar que a passagem tava toda errada. Era de um voo que tinha saído 6 horas antes. E que faria em 14 horas um trecho de 2h30. Tinha uma travessia de barco, de jipe, só faltava conexão pra pegar jegue.

Frio na barriga.

Acordei, dormi de novo e a história continuou. Sabe assim?

Eu ligava pra Gol (era Europa mas era Gol, sonho permite esse tipo de incoerência, né?), mas não conseguia resolver, não conseguia trocar a passagem, não conseguia nada.

O próximo voo custava umas dez vezes mais. E a moça insistia que àquela altura eu tinha que estar no barco. Porque de acordo com o sistema eu tinha embarcado.

– Moça, eu juro que não tô no barco, moça. Não foi isso que eu comprei.

Ela não aceitava a realidade. E eu não aceitava aquele trajeto de maluco, uma viagem torta que começou antes mesmo da passagem chegar na minha mão.

Eu queria um próximo voo. Queria resolver aquilo. Queria seguir adiante.

Como terminou?

Com a moça da Gol me dizendo, com aquela voz de aeroporto, que eu teria que me entender comigo mesma. (!)

Porque, sim, eu estava naquela viagem que já tinha começado.

E se eu quisesse seguir um trajeto diferente seria problema meu e não da companhia aérea.

E eu não poderia arcar com um próximo voo.

Parecia um sonho bom.
Parecia.

 


Imagem: Wikipedia.org

 

Não é sobre sapatos

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Eu tinha quatro ou cinco anos. E ganhava um sapato vermelho de presente. Era um modelo boneca, confortável, de um vermelho forte e acabamento que parecia um verniz suave. O fecho prendia a tira no terceiro furinho.

#vou_tecontar que era a coisa mais linda o meu sapato vermelho.

Fazia toc toc quando eu caminhava. E enquanto eu andava pra lá e pra cá no chão de madeira pra escutar a música do meu sapato, abri os olhos. O quarto estava cinza e era de manhã. Fechei de novo pra procurar o sapato vermelho e não achei. Pulei da cama, abri o armário da direita e meus olhos ansiosos vasculharam o cantinho inferior.

O tênis branco e azul da escola estava lá. A sandália branca de couro macio também. E os chinelinhos. Mas sapato vermelho não tinha ali. Nem de luz acesa, nem de luz apagada.

E assim eu entendi que era sonho. Eu perdi o meu sapato vermelho e eu só tinha quatro ou cinco anos.

Por muito tempo eu pensei naquele sapato.

Aos dezenove comprei um all star vermelho. Era o meu predileto, tenho até hoje. Aos vinte e dois achei um modelo similar, mas era verde. Comprei uma meia vermelha e usei a dupla até cansar. Aos trinta, cada vez que eu entrava numa loja era o vermelho que eu procurava. Teve uma vez que vi um parecido, mas não encaixou no meu sonho, não era o meu número.

Ano passado, pela primeira vez bati o olho num sapato vermelho que não era tênis, que não era verde e que serviu. Eu gostei, é arredondado, dá conforto. Fiz o sapato caber no meu sonho por R$ 139,90. Eu adoro o meu sapato vermelho.

Só que é vermelho, mas não tem fecho. É vermelho, mas não tem música esse sapato.

Talvez eu nunca tenha um sapato vermelho com fecho, com terceiro furinho e com música.

Porque eu só tinha quatro ou cinco anos.

E quando se tem quatro ou cinco anos a gente pode sonhar qualquer coisa.

 


Imagem: huffingtonpost.com