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Criança com faniquito

Histeria no elevador logo cedo.

E eu com dor de cabeça.

Pra essa historinha que  #vou_tecontar, acho apropriado vc clicar nessa trilha aqui:

A menina, de uns 3 anos, não queria aquele sapato.

A mãe com voz estridente tentava explicar -leia-se “convencer”- que o sapato é bonito e combina com a roupa.

A menina berrava.

A mãe apelou:

– Filha, pergunta pra essa tia (apontando pra mim) se o sapato não está lindo. Não tá, Tia?

A menina me olhou desconfiada.

Fui sincera:

– O sapato é legal, mas só fica bonito em criança boazinha. Criança chiliquenta tem que ficar descalça. No berço. Sozinha. E no quarto escuro.

Funcionou. A criança ficou muda. A mãe também.


Nota: texto de 2014. Antes que me julgue: acho desnecessário obrigar criança a usar sapato. Por mim ia de havaianas. E, claro, também acho um saco criança que berra no elevador. Pronto. Pode julgar agora. Beijo.

Não é sobre sapatos

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Eu tinha quatro ou cinco anos. E ganhava um sapato vermelho de presente. Era um modelo boneca, confortável, de um vermelho forte e acabamento que parecia um verniz suave. O fecho prendia a tira no terceiro furinho.

#vou_tecontar que era a coisa mais linda o meu sapato vermelho.

Fazia toc toc quando eu caminhava. E enquanto eu andava pra lá e pra cá no chão de madeira pra escutar a música do meu sapato, abri os olhos. O quarto estava cinza e era de manhã. Fechei de novo pra procurar o sapato vermelho e não achei. Pulei da cama, abri o armário da direita e meus olhos ansiosos vasculharam o cantinho inferior.

O tênis branco e azul da escola estava lá. A sandália branca de couro macio também. E os chinelinhos. Mas sapato vermelho não tinha ali. Nem de luz acesa, nem de luz apagada.

E assim eu entendi que era sonho. Eu perdi o meu sapato vermelho e eu só tinha quatro ou cinco anos.

Por muito tempo eu pensei naquele sapato.

Aos dezenove comprei um all star vermelho. Era o meu predileto, tenho até hoje. Aos vinte e dois achei um modelo similar, mas era verde. Comprei uma meia vermelha e usei a dupla até cansar. Aos trinta, cada vez que eu entrava numa loja era o vermelho que eu procurava. Teve uma vez que vi um parecido, mas não encaixou no meu sonho, não era o meu número.

Ano passado, pela primeira vez bati o olho num sapato vermelho que não era tênis, que não era verde e que serviu. Eu gostei, é arredondado, dá conforto. Fiz o sapato caber no meu sonho por R$ 139,90. Eu adoro o meu sapato vermelho.

Só que é vermelho, mas não tem fecho. É vermelho, mas não tem música esse sapato.

Talvez eu nunca tenha um sapato vermelho com fecho, com terceiro furinho e com música.

Porque eu só tinha quatro ou cinco anos.

E quando se tem quatro ou cinco anos a gente pode sonhar qualquer coisa.

 


Imagem: huffingtonpost.com