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Procuro professor de inglês

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Para relacionamento não muito sério nem tão duradouro.
Capaz de ajudar a refrescar minha memória de peixe – tipo aquele azul, do filme, como chama mesmo? Então.
Que seja paciente com meu aprendizado lento, mas que me ajude a evoluir rapidamente – e que concorde que miracle é uma palavra forte, ficamos com challenge.
De preferência um professor que não dê lição de casa. Mas, se der, que não seja assistir as temporadas de Friends ou Game of Thrones. Daí não rola.
Procuro um professor capaz de explorar e interpretar a comunicação não verbal. Porque eu me desdobro pra me fazer entender.
Rir é permitido. E recomendado. Na verdade, bom humor é desejado.
Quero um professor que não me odeie (profundamente) por forçar o uso de palavras que eu gosto, tipo lobster, e evitar as que tenho dificuldades de pronunciar, tipo tough, though, through e thorough.
Que não me julgue por deturpar phrasal verbs e aceite que eu talvez nunca aprenda gramática. Mas que não desista de mim mesmo assim.
Se for brasileiro, não `vai estar cometendo´ muitos erros de português, mas que supere minhas graves escorregadas no inglês – “aluna exigente procura professor condescendente”, porque a vida não é justa.
Se gringo, podemos trocar serviço. Só não me peça pra ensinar samba e análise sintática. Porque aí eu dou o truque.
E, olha, não pode ser, assim, muito bonzinho. Procuro um professor, NÃO um ursinho.
Importante que goste de cinema, teatro, boa leitura e trilha sonora. Que não use o repertório pra medir as pessoas. Mas, claro, aceite que Woody Allen, Leminski, Lewis Carroll e Norah Jones estão acima do bem e do mal. Fazem a nota de corte.
Quero um professor que goste de viajar. Caso contrário, melhor nem sair de casa. Não vai ter química. Nem inglês.
Belos olhos contam pontos. Me prendem a atenção – a aula rende mais. Isso é lógica pura. Juro.
De preferência quero um professor que não fume. Beber pode. Inclusive em serviço.
Espero que não me peça pra ler Joyce. E compreenda que meu livro de cabeceira hoje é (só) um (1) guia ilustrado de viagem. Sim, eu gosto de ver as figuras.
E aconteça o que acontecer nunca me pergunte se eu visitei o castelo do Harry Potter – #neverharrypotter´scastle.
Porque não.
E aconteça o que acontecer, Snoopy está sempre lá, podemos usar a qualquer tempo – #peanutsforever.
Que o professor aceite que eu posso deixar Poe, Blake, Woolf e até Shakespeare de lado. E dar preferência a Bolaño, Llosa ou Cortazár em algum momento. Mesmo não sendo aula de inglês e espanhol.
Que eu posso trocar filme cult por comédia romântica à vontade. E até ver novela vez ou outra. E que nada disso configura traição. Pode chamar de ecletismo. Pega bem pra mim.
Procuro um professor que de preferência more perto. Ou que não more longe, vá. Prefiro aulas presenciais.
Se gostar de pão na chapa é legal – #breadonplate.
Porque sim.
Um professor com horários flexíveis é o ideal. Prometo (tentar) não ligar depois da meia noite.
Ah, o professor pode ter um gato preto. Mas daí tenho que descontar o valor do antialérgico. Tá, esquece essa parte, eu não quero o Gargamel (o gato dele é preto ou amarelo?), procuro um professor. E ainda me dou melhor com cachorros. Embora gatos sejam mais poéticos.
O professor pode usar óculos, cachecol e tênis, tipo all star. Camisa lisa ou xadrez. Listrada colorida não pode. Só se for o Wally. Sem pompom no gorro. Tudo bem, não vou me ater ao figurino, isso não deveria ser relevante – mas, por favor, que não me apareça de boné e corrente.
Eu quero um professor que saia de casa sem ler horóscopo e que possa não julgar as pessoas pelo signo solar – e aqui tô só me defendendo. Mas de vez em quando podemos dar uma espiada na Susan Miller, sem compromisso.
Não vale me chamar de sweetheart nem falar lovely pra tudo, o tempo todo. Trauma é trauma, não se discute.
Pode usar dear, mas, por favor, não erre o meu nome. Nem em português, nem em inglês. Nem em qualquer droga de dialeto. Talvez em francês. Talvez um Liliá. Porque daí não é erro, é acento. E é charmoso.
Talvez eu nunca ache o professor de inglês da minha vida.
Então aceito um professor de inglês comum.
Que seja gente boa.
E paciente.
Tá, pode até ser uma professora.

 


Foto: theguardian.com