Arquivo da tag: praia

O kit férias coletivas e a pobre criança que vem aí

12391991_10204317623655749_7763080436368885311_n

Litoral de São Paulo, 26 de dezembro de 2015.

A cadeira listrada, o protetor 70, o chapéu vermelho, o livro da vez e eu. Tem sol, ventinho, uns 35 graus, o kit férias coletivas e um sonho: o silêncio.

Por “kit férias coletivas” entende-se: gritos de olha o camarão e cerveja geladinha, pagode à esquerda e samba à direita (mas também pode ser o contrário), o homem-aranha do algodão doce, crianças, seus baldinhos, choros e chiliques. Um salva-vidas blasé mirando o além-mar, comidas pulando pra fora de isopores – com dimensões e indulgências variadas.

E é bom eu parar de listar, senão já pego o meu livrinho e saio de fininho.

As conversas paralelas no entorno atravessam a narração do anti-herói do meu livro. Ele está em Madri, eu em Santos. Ainda que exista todo um oceano entre nós, as palavras começam a se misturar e tenho que voltar um ou dois parágrafos uma ou duas vezes. Procuro o fone de ouvido, mas percebo que esqueci.

“Olha, vou te dizer, se meu filho tiver metade – digo metade, nem precisa ser 50% – da inteligência da minha mulher, se ele tiver metade eu já tô feliz. Não que eu seja um cara burro. Não. Mas eu sou preguiçoso e tal. Agora a feição vai ser minha. Porque eu sou um cara bonito”.

Não, não é do livro. Claro.
E depois disso eu tive que virar pra dar uma espiada. Claro.

A mulher, grávida, tentava insistentemente fazer um buraco na areia pro guarda-sol. O homem, sentado na cadeira, cerveja na mão, conversava com a colega, de boa na lagoa.

Pobre criança.

Porque 2016 será fruto de 2015.

Né?

Pois é.

Cena final: guarda-sol sai voando e atropelando as crianças ao lado. Aquelas que provavelmente são frutos de 2011, 2012, 2013 e 2014.
.
.
.
E viva o verão.

Tiozinho do milho

tumblr_inline_nthu8sODv01tz7od4_1280

– Espera!, gritou a criança de uns 3 anos pro tiozinho do milho.
Ele esperou.
– Volta!, ela ordenou.
Ele manobrou o carrinho pra voltar e… tombou. Tombou pra frente. Levantou e… de novo foi ao chão.

Milho com areia.
Areia com Claybom.
Engavetamento de espigas.
Esparramamento de colheres.

#vou_tecontar que foi uma comoção.

Rapidamente umas seis pessoas se apresentaram pro resgate. Assumi o posto de recolher espigas.

O tiozinho do milho “concorrente” e o senhorzinho do mate com abacaxi foram ágeis. Experientes na labuta, botaram tudo no jeito e novos milhos na panela em menos de 15 minutos, sem abandonar seus próprios clientes.

Chamaram também a esposa do tiozinho acidentado, que tem um histórico de problemas de saúde, mas “teima” em seguir trabalhando de sol a sol. “Alguém tem que tomar uma providência”.

Areia limpa, carrinho pronto, vida que segue.

Sim, existe solidariedade no litoral de SP. E vou dizer que os ambulantes deixam a areia mais limpa do que a maioria dos turistas.

A criança?

Negociou rapidamente com a mãe a troca do milho por um pastel de queijo e assistiu tudo de camarote. De barriguinha cheia na sombra de sua barraca gigante. Rodeada de embalagens de suco e pacotes de salgadinho – de milho.

16h56.

 


Foto: br.freepik.com

 

– Nina, é Você?

Uma das peculiaridades da praia do paulista é escutar a conversa alheia, tamanha a proximidade entre guarda-sóis.

Mas e quando o assunto é VOCÊ?

#vou_tecontar como foi e sugiro vc clicar nessa trilha aqui pra acompanhar (coloca baixinho pra não dar interferência, tá?):

Voltando pra areia, estava eu bem quietinha num dia encalorado, quando…

– Tio, tá vendo essa garota aí do lado? Não é aquela menina que faz novela?

– Qual, a branquela do chapéu?

– É! Não é?

– Não sei, não dá pra ver direito.

– Acho que é, Tio. É sim!

Começaram a me observar ostensivamente.

– Mas qual novela, Marcelo?

– Aquela que fez a Nina, da Carminha.

– Será?

O garoto foi pegar um sorvete e voltou.

– Mãe, vê se não é aquela da novela aí do lado. Vê!

– Não sei, Marcelo. Mas pode ser, né? Artista gosta de andar de óculos e chapéu grande pra esconder a cara. Tudo branquela e esquisita por causa da televisão.

 Oi, oi, oi??

– Vou perguntar.

– Vai nada, Marcelo, deixa a menina em paz.

– Psiu, Nina! É você?

Fingi que não era comigo, até porque, caramba, não era!

– Vai ver é gringa, nem vai entender nada do que você falar, Marcelo.

– Mas, Tio, eu acho que é.

– Tem jeito de argentina.

– Eu acho que é a Nina, sim.

O menino passou do meu lado três vezes, até que não se aguentou.

– Moça, você é a Nina?

Eu: Nina?

– Sim, da novela da Carminha.

Eu: Seu Tio, que tá ali, é o Zeca Pagodinho?

– Não. Por quê?

– Porque se ele for o Zeca Pagodinho eu sou a Nina.

Sim, eu sofri “pré-conceito” nas areias de SP.

Pô! Fui chamada de branquela, esquisita e argentina em menos de quarenta minutos. Isso porque tô relativamente bronzeada, tenho uns 98cm de quadril e nunca peguei o Murilo Benício. :\