Eu preciso de um plano.
Preciso de um plano pra levantar na segunda-feira. Um plano pra sair e pra voltar pra casa. Preciso de um plano simples, banal, corriqueiro. E também um plano complexo, elaborado, um plano de longo prazo.
Porque não se vive sem um plano. Um planinho que seja. Até mesmo pra desistir, pra mudar, pra protelar, é preciso de um plano.
Ah, mas é tão legal não seguir o planejado, fugir da rotina, da cartilha, do que diz a agenda; nada como poder mudar de ideia, afinal, não há nada como improvisar! O improviso é libertador.
Sim, é.
Mas só se pode improvisar em cima de alguma coisa. Se não há base não há improviso. Quanto melhor a sua base, melhor o improviso. Não se engane. Até o improviso mais descompromissado tem muita técnica e trabalho por trás. Acontece às custas de muitos planos já executados. Veja o jazz, veja a pintura, veja a interpretação. A qualidade do improviso é quase diretamente proporcional ao que foi um dia planejado.
“Disciplina é liberdade”, já dizia a canção. Tá, essa foi fraca e eu nem planejei isso. Foi um improviso ruim, construído em cima de uma base frágil, tá vendo?
Mas quero dizer que a liberdade do improviso é nada mais que uma consequência. É conquista do trabalho árduo e disciplinado do plano levado a sério.
Por isso eu digo que preciso de um plano. Ou vários.
Nem que seja pra estragar, pra desfazer, pra jogar fora e improvisar em cima.
Um plano de carreira. Um plano de previdência. Um plano pro presente. Um plano pro futuro. Um plano pro fim de semana. Um plano pra ver aquele filme no cinema. Um plano pra ir ao teatro. Um plano pra fazer alguma coisa. Um plano pra fazer coisa alguma. Um plano de viagem. Um plano pra dormir mais cedo. Um plano pra acordar mais tarde. Um plano pra tirar férias. Um plano tático. Um plano de ir até a esquina comprar banana prata. Um plano pra pagar o INSS. Um plano de gestão de recursos financeiros. Um plano de crise também. Um plano pra cortar o cabelo. Um plano pra trocar de carro. Um plano pessoal e intransferível. Um plano pra arrumar aquele guarda-roupa bagunçado. Um plano pra uma vida mais saudável. Um plano pra um bolo de cenoura saudável, talvez. Um plano pro resto da metade da vida. Um plano B ou C ou até mesmo D. Um plano pra retomar um plano esquecido na gaveta. Um plano para fazer planos. Um plano pra aprender alguma coisa nova. Um plano pra não me abalar com a maldade das pessoas – e são muitas, as maldades e as pessoas. Um plano pra realizar um plano cada vez mais distante e difícil. Um plano pra enfrentar os dias ruins. Um plano para comemorar os dias bons. Um plano pra me livrar de uma dor. Um plano pra viver um amor.
Um plano pra levantar na segunda-feira.
É isso.
Hoje eu preciso de um plano.
E eu nem quero dominar o mundo.
Só quero sobreviver no meu mundo.
E poder improvisar.
Foto: ZineCultural