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A lagartixa bebê X o faxineiro parasita

Não para faxineiro no meu prédio.

O mais novo começou há cerca de um mês e meio. Relativamente jovem, usa calças jeans dois números maior, tênis de corrida e camisetas coloridas. Ele olha meio esquisito, fica acompanhando quando a gente passa. Tá sempre fumando um cigarro ou falando no celular.

#vou_tecontar que ainda não coincidiu de eu vê-lo com vassoura, balde ou pano na mão.

Daí, sei lá por que raios, outro dia encontrei o zelador e ele resolveu pedir minha opinião.

– Ainda não conversei com ele, mas parece boa pessoa, Seu João. (mandei minha “resposta padrão”)

– Mas você tem achado que o prédio bem limpo, Lília?

 

Droga, assim o Seu João não me ajuda. A lagartixa entrega, Seu João!

Silêncio. E um filminho.

 

E enquanto você acompanha comigo, sugiro colocar essa trilha aqui:

 

Duas semanas atrás, chegando em casa, abri a porta e uma coisinha correu pra dentro. Susto, pensei que era barata. Mas era uma lagartixa bebê. Aproveitou a oportunidade pra buscar abrigo.

Olhei bem pra ela e disse:

 – Vaza, minha filha, vaza que aqui não é teu mundo. Vaza!

Toquei a bichinha porta afora e tranquei.

Cinco segundos depois abri pra ver se ela estava bem. Tava no cantinho, quieta. Então pronto, vida que segue, ela vai caçar nas paredes da área comum, sair pela janela, se aventurar pelos andares e ser feliz.

Foi o que eu pensei.

Na manhã seguinte, quando saí pra trabalhar ela tava lá. Dei bom dia pra lagartixa e embarquei no elevador. À noite esperava encontrá-la, mas tinha sumido. Vazou. Esperta.

Esperta médio.

Porque na noite seguinte, quando voltei pra casa, ela estava jogada no degrau. Estática. Dei boa noite, abri a porta, entrei. Voltei três passos, fui conferir de perto. Ela estava morta.

Mor-ta. Esticadinha.

Poxa, que vida ingrata essa de bebê lagartixa. Senti uma pontinha de culpa. Porque eu botei ela pra fora, né? Teria tido uma vidinha melhor se eu a tivesse deixado dormir pra dentro?

“Bobagem, Lília. Você não saberia o que fazer com um bebê lagartixa dentro de casa”, disse o anjinho.

Embora eu não tenha nada pessoal contra lagartixas, sempre me afligiu a ideia de ter uma muito perto na hora de dormir. Medo da bicha escorregar do teto e cair gelada em cima de mim no meio da noite.

Sei lá.

O fato é que no dia seguinte os restos mortais ainda estavam ali. E no outro também.

Chegou o dia da faxina no prédio. Passou o dia da faxina no prédio. E ela continuou ali. Só que mais no cantinho, como um amontoado do que foi uma lagartixa um dia. Eu chegava, saía, ia, voltava e a finada ali.

Ou seja.

Cogitei eu mesma limpar, por uma questão de dignidade. Da lagartixa. Mas deixei como um teste. Pro faxineiro.

Nada.

Quase duas semanas depois, enfim, aquela coisa seca desapareceu. No mesmo dia em que encontrei um tapete diferente na minha porta. Quando coloquei a chave no trinco, olhei o tapete e, ops, a que ponto cheguei, será que errei de porta? Conferi o número do apartamento. Tava certo. Reconheci. Era o tapete o vizinho. Olhei pra trás, o meu tapete estava na porta dele.

Ufa!

Mas sabe que gostei mais do tapete dele na minha porta? Foi o suficiente pra eu decidir que é hora de comprar um tapete novo.

.

– Olha, Seu João, se o faxineiro é bom eu não sei. Só sei que tenho reparado que temos lagartixas no prédio. Os insetos tendem a diminuir. Ou não. 

Seu João ficou me olhando em silêncio. Com cara de quem pergunta se sou normal.

.

Daí essa semana reparei que o faxineiro sumiu.

Então descanse em paz, bebê lagartixa.

Obrigada por tudo.

🙂

E desculpa qualquer coisa.

 


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