Sábado de manhã. Espera sonolenta pra conseguir vaga no estacionamento de um centro médico em São Paulo.
#vou_tecontar que quando eu estou pegando o ticket com o manobrista, um carro praticamente “invade” a rampa e um jovem motorista desce “quente”.
– Ei, você tirou o cone de lá? Não pode, tá lotado (avisa o manobrista).
– Não quero saber, eu sou médico aqui. O resto é problema seu (e bate a porta do Palio).
– Mas não tem vaga. Não cabe! (se desespera o manobrista).
– Se vira, eu tenho mais o que fazer (pega o jaleco no banco de trás e sai andando).
Nesse momento eu já estou dentro do elevador, a porta fechando, mas ele mete a mão e entra.
E ignora o ticket do estacionamento que o manobrista tenta entregar, em vão, pelo vão.
A porta fecha. E eu não me aguento.
– Seu nome é?
– Fábio. Dr. Fábio. Por quê?
– Só pra eu lembrar. De nunca passar em consulta com você. Bom dia.
E ainda bem que eu desci logo no primeiro andar.
Ou estaria aqui escrevendo “o dia em que apanhei no elevador”.
…
Deixo aqui uma sugestão de trilha sonora pra inspirar o Dr. Fábio. Quem sabe um dia, né?
Desembarquei no aeroporto JFK. Finalmente tinha chegado o meu dia. Dia de botar o pé em NY e de ver “qualé que é”. Afinal, o que é que essa cidade tem que planta uma maçã no coração da gente?
Fui lá ver.
E hoje, 18 de setembro de 2015, faz exatamente um ano disso tudo. Tá rolando uma nostalgia, uma saudade, uma vontade louca de me teletransportar pra Manhattan em 3…2…1.
Mas não vou ficar aqui falando do quanto NY é incrível, vibrante e contagiante. Talvez isso você já saiba. Se não sabe, já leu por aí. Se não leu, ouviu relatos ou viu as figuras.
Eu #vou_tecontar como eu me senti ao voltar de NY.
Então segura aí um textinho que eu escrevi quando acordei de novo em São Paulo. Acho que o retorno de uma viagem dá a medida exata do impacto da experiência na vida da gente. Mais do que isso: ajuda a entender o que é que faz sentido.
Hoje fui ao mercado e sabia onde tava tudo. Conhecia as marcas nas prateleiras e pude identificar facilmente cada item. Eu entendia 100% do que escutava no entorno, a conversa das pessoas, as reclamações sobre os preços, os murmúrios, as discussões de casal. A moça do caixa não me perguntou como eu estava me sentindo e se tenho o cartão da loja. Ela perguntou se eu queria CPF na nota. Eu não comi cupcake no café da manhã, não vi a manchete do The New York Times, não passei pelo Central Park, nem peguei o metrô com aquele medinho de errar. Hoje eu não olhei pro alto mais do que pro chão. Eu dei bom dia pro zelador, vi os velhos buracos na calçada e virei a esquina pro lado certo. Não tinha cores do outono nem decoração de Halloween no meu caminho. Hoje eu não planejei ver uma peça. Não visitei um bairro desconhecido. Não saí de roupa amassada e não comi nada que eu nunca tenha experimentado antes.
Hoje não fez muito sentido.
…
E deixo aqui uma trilha sonora clássica pra inspirar. Porque NY é um clássico. Tipo Sinatra. Que sempre alegra a vida da gente. 😉
Foram 17 dias intensos. Acordando, tomando café-da-manhã, almoçando, jantando, dormindo… tudo juntos. Até que chegou o momento inevitável. O dia em que ele pegou um avião, cruzou o atlântico e voltou pra casa. Dele.
E #vou_tecontar que então tudo virou silêncio. Um só pote de sucrilhos na mesa. Nada de toalha molhada em cima da cama. Ninguém pra disputar a coberta. Ou pra conversar enquanto o sono não vem.
A casa estava vazia. Dela.
E esvaziou-se como uma atração turística após o expediente. Como um museu de grandes novidades depois que os visitantes vão embora. Como um palco quando terminam os aplausos, as luzes se apagam e alguém bate a porta.
Estava mais sozinha do que sempre. Mais esgotada do que a Cantareira. Mais na ressaca que no seu maior porre. Mais loser que aquele funcionário que sempre fecha a firma bem depois do expediente – porque não consegue dar conta no tempo regulamentar.
Era o fim.
Das férias.
Dele.
Um desfecho esperado, afinal, era paixão de verão. Era verão no hemisfério norte. E talvez eles nunca mais se verão. Talvez estejam condenados a viver como um trocadilho infame, que não se pode repetir porque soa mal. Como uma bota que não combina com o cinto e faz o look ruim.
Três da tarde. Hora de levantar, reagir, seguir em frente. Afinal, foram 17 dias e não 17 anos.
Uma rápida limpeza na casa, um breve surto de arrumação. Ela sempre acreditou que a organização também pode acontecer de fora pra dentro. Gavetas em ordem são um ponto de partida pra cabeça no lugar.
Lista de compras na mão, seguiu pro mercado. Na fila, viu que a moça do caixa conversava com um homem. Pareciam não se entender, ela estava contrariada. “Te pego na saída e acertamos os detalhes”, ele avisou.
Torrada, ricota, suco de caixinha, sucrilhos, capuccino. Cada item se arrastava na esteira lentamente, com o mesmo peso e preguiça que ela foi de casa pro mercado; como a moça do caixa passando os produtos vagarosamente pelo leitor do código de barras.
Opa, passou o mesmo produto duas vezes. Para tudo, chama a gerente, cancela, continua. A moça do caixa parecia abalada.
Estaria tão triste quanto ela?
E nesse caso a ordem das pessoas não altera a pergunta.
R$ 87,90. CPF na nota? Pagamento no débito. Ah, digitou crédito. Começa de novo.
“Desculpa, moça. É que tem dias que a vida pessoal interfere no trabalho da gente”, falou a caixa, cabisbaixa.
“E eu não sei?”, respondeu ela, errando a senha.
Nesse instante se olharam.
“É que ele terminou comigo, depois de 17 anos pediu o divórcio”, revelou a caixa, num suspiro.
E então escorreu uma lágrima.
De uma.
E de outra.
Se encontraram num choro triste e doloroso. Ali, bem no caixa do mercado, numa quarta-feira de inverno qualquer.
Constrangida, pensou em colocar os óculos escuros pra evitar que outros clientes vissem o pranto. Mas achou que seria indelicado com a moça do caixa. Deixá-la chorando sozinha nesse dia tão difícil. Afinal, foram 17 anos e não 17 dias.
“São R$ 87,90”, repetiu a caixa, engolindo o choro, o nariz vermelho.
Transação aprovada.
“Posso te dar um abraço?”
A caixa assentiu. Solidárias, se despediram entre ecobags.
E já na volta pra casa é que se deu conta. Nem perguntou o nome dela.
Mas tudo bem. Logo mais será verão no hemisfério sul.
Aguardem.
.
E enquanto o dia dela não chega, te deixo com esse vídeo aqui:
Cansa de tomar buzinada de maluco quando dá seta e reduz a velocidade pra entrar na garagem de casa. Cansa de tomar xingo de idiota porque seu prédio não tem recuo suficiente pra esperar o portão da garagem abrir sem atrapalhar a passagem. Cansa de botar o braço pra fora do carro, em vão, quando vê um apressadinho se aproximando a milhão.
Então, nesse dia, você sabe que não deve, mas perde a linha – da boa educação e do Equador.
Você para o carro no meio da rua, abaixa o vidro do carro, abraça a cangaceira que existe em você e despeja o latim de quinta categoria.
Como se fosse a sua última missão nessa rotina de sertão.
“C@&@/#&, eu reduzo a velocidade e dou seta, vc quer que eu solte fogos de artifício pra avisar que moro nessa $#&&@ de prédio e preciso entrar na m€#&@ da garagem que não tem uma £&$/@ de recuo? Precisa apertar a p#&&@ da sua buzina em cima de mim? Vai se *&€%!!!!! (assim, com vaaaaaárias exclamações)
E nesse dia há um silêncio.
Um homem – o malfeitor – te encara com os olhos arregalados. Visivelmente desconcertado, balbucia alguma coisa, pede desculpas, se justifica.
Em pensamento você logo se arrepende, imagina o risco de brigar na rua. E se ele tem uma arma? E que feio, que deselegante, que falta de equilíbrio, gente, essa não sou eu. Podia ter xingado uma vez só, baixinho.
Daí ele bota a cara pra fora da janela e diz que você é muito brava – com acento no MÚ.
Mas muito linda – com acento no LÍ.
Encerrando a função laundress, abaixo o varal já lotado pra estender a última peça de roupa.
#vou_tecontar que tava tudo lindo até eu me superar na função clown.
Fronha que nada! Agora eu derrubo é pantufa pela janela!
E lá se foi o coelho oito andares abaixo.
Ele que encarou a máquina de lavar ontem e estava cheirosinho em cima do varal, perto da janela pra pegar um (possível) sol.
Ele que mora no sofá e abriga os controles da TV e da Net.
Que outro dia até sofreu calado o ataque de um cão visitante.
Pobre coelho, despencou.
De orelha foi ao chão.
E lá fui eu fazer o resgate.
No maior estilo “foi sem querer, tomara que não tenha ninguém olhando”.
Sem testemunhas, ufa. Agora só vocês sabem.
E o coelho passa bem.
“É um peeling de ácido retinóico”, me disse a doutora. “Você vai estranhar um pouco no começo, mas depois vai adorar o resultado”. Do jeito que ela falou, explicando o procedimento, acho que eu era a única mulher no mundo com mais de 30 que nunca fez um desses na vida. #vou_tecontar que me senti uma Pug desleixada.
E antes que você continue a ler essa história, sugiro clicar nessa trilha sonora óbvia aqui. Se você tiver a minha “faixa etária”, vai te fazer viajar no tempo:
Ok, topei. Vamos lá, se é pra bem, que mal tem? Preciso me cuidar, afinal de contas, já basta andar por aí largada e descabelada. E tava incluído no valor da consulta. De graça tudo fica muito mais legal, né?
Ela pincelou uma gororoba na minha cara e me mandou pra casa. Disse pra eu lavar o rosto dali quatro horas, impreterivelmente. Beleza, vai ficar uma beleza. Anotei todas as recomendações para os próximos 7 dias, quando eu voltaria a ter 27 anos (uhu).
“Compra a água termal, vc vai precisar”. Ok. La Roche Posay. “Se for sair, protetor 70 oil free”. Uhum.
Lavei o rosto na hora certa, tudo nos conformes, ainda era eu. À noite foi me dando um esquentamento. Uma vermelhidão. Mas tudo bem, ela tinha me avisado como seria.
Na manhã seguinte tinha uma figura estranha no espelho. Trocaram o meu rosto por um tomate enquanto eu dormia. Estava redonda e vermelha. “O segundo dia será o pior dia”, me lembrei da explicação. Beleza. Vai passar e voltarei a ter 27 anos.
Fui até o mercado. No trajeto, na fila dos frios, no caixa e a cada olhada que me davam eu quase escutava: “olha a idiota que foi pra praia e não usou protetor”. Devia eu contar que só uso 70?
Deixa pra lá, posso dizer que estava doidona em Ibiza se alguém me perguntar.
Eu toda encapotada no inverno paulistano e o termômetro do meu rosto marcava 40 graus. Ou mais. Uma borrifada de água termal pra me aliviar e a mulher ao lado manda: “É peeling, né?”. É, pois é, respondi, procurando uma brisa ou uma geladeira de sorvete nas proximidades.
No dia seguinte, eu já estava craquelenta, cheia de repuxamentos. Em seguida começou um descascamento incontrolável.
Numa visita à livraria pude sentir os olhares e questionamentos dos homens à minha volta: “Será que ela é doente? Será que isso pega?”. O moço do caixa, muito educado, fingia que estava tudo normal. Disfarçava enquanto provavelmente tentava entender a razão daquela pele pulando do meu nariz.
Acho que nesse dia entendi exatamente o que sentem as pessoas com deficiência sobre os olhares externos e a reação de pessoas que ignoram o que está evidente. É desconfortável quando te sorriem e fingem que não há nada de diferente quando, na verdade, há.
É tipo quando a gente olha pra alguém muito vesgo e não sabe em qual olho focar, mas disfarça, sabe assim?
Estranho e constrangedor.
Acho que é por isso que a doutora me disse que as pacientes geralmente fazem peeling nas férias, feriados, ocasiões em que ficam trancafiadas dentro de casa pra ninguém ver a cara delas. Depois voltam lindas e radiantes, os amigos elogiam e elas dizem que a pele tá boa porque são felizes e “bem amadas”.
Safadas.
E, vou te dizer, colega, não há água termal, base líquida ou protetor que disfarce um peeling desses. Parece que seu rosto quer se soltar de você, cair numa corrente de vento fresca e ganhar os sete mares.
Gente, nem quando eu tinha 10 anos e esquecia de repassar o protetor depois de horas na praia ficava desse jeito. Por que é que a gente faz isso com a gente?, pensei. Daí lembrei dos 27 anos e tratei de calar a consciência.
E não quero ficar reclamando muito porque já ouvi dizer que depois dos 40 ou 50 o peeling (mais forte ainda) deixa a pessoa com cara de quem se esfregou no asfalto. Gente, precisa?
Hoje eu acordei mais leve. Tinha bastante pele no meu travesseiro e, sabe, pele “velha” pesa, né? E junta ácaro. Então tratei de lavar logo a fronha e o rosto.
Agora tá melhor. Tô aqui esperando pra ver se em três dias voltarei a ter 27 anos.
Mas hoje ainda me sinto com 37. E no fundo eu sei que continuarei com 37. Com as mesmas crises, dúvidas e questionamentos de 37.
E, cá entre nós, completamente sem saco pra essas coisas de mulherzinha.
…
E pra lembrar que juventude e velhice não têm nada a ver com idade, deixo você com esse vídeo aqui:
Foi estranho. Bem estranho. Ver uma foto do meu Instagram pessoal no Facebook de outra pessoa.
Sei que acontece todo dia, com tanta gente, com profissional e tal, mas aconteceu comigo, reles mortal.
Primeiro fez plim > opa, esse recorte de mundo é meu.
Procurei crédito, menção, referência, comentário. Nada. Nadica.
Achei feio. Entrei no Instagram da pessoa. E tava lá. A minha foto. Como se fosse dela. Com a minha legenda ruim e tudo. Compartilhada no Face e tudo.
Ei, ei, essa bobagem é minhaaa!!
#vou_tecontar que foi como encontrar a minha calcinha (bege) na gaveta de outra pessoa.
Sim, a bege. Básica. Cotidiana. Toda menina tem, mas cada uma tem a sua. A foto que muita gente já fez. Como um bolo de vó.
Não era eu na foto, claro. E a pessoa não é exatamente “amiga”, claro. Mas isso não é bacana, claro.
Né?
Parei pra pensar uns dez minutos.
Tentei isolar o signo solar. Sai, escorpião, a foto tá na rede, agora é do mundo. “Vamos dividir o bolo pra multiplicar”. “Nada se cria, tudo se copia”.
Lindo.
Mas não surrupiar.
Né?
Bota lá as letras. Miúdas, que sejam. Uma @Fulana, tks. Aquele ícone de repost (que não sei como faz, acho que é um app). Ou então pega a receita, vai lá e faz o teu próprio bolo de vó. Clica por si mesma. Faz igual, se quiser. Será teu. O teu fubá. A tua imagem. Mas sem o sabor que só a vó pode dar.
Sem a minha alma.
Porque isso não dá pra imitar.
Na vida, na arte e na rede, é legal pra caramba ver uma coisa sua ser levada adiante pelas mãos de outras pessoas.
Contribuição, poxa! Reconhecimento!
E a gente faz isso de montão. Desde sempre. Mas que a fonte siga junto com a coisa. Criador e criatura. Mais do que propriedade intelectual, isso é essência. É o que dá sentido.
Ou, então, sei lá, entra num free images, usa uma foto de domínio público, dessas que não têm necessidade de citar a fonte. Sem crise, na honestidade.
A verdade é que enche o saco ver nosso whatever “roubartilhado” de um jeito ruim.
Mas é o tal negócio…
Se estamos aqui, estamos pra isso também. Damos a cara pra isso também.
Pra influenciar. Emaranhar. Provocar. Inspirar. Partilhar. Misturar. Confundir.
Pra “linkar”.
E, fatalmente, pra alguém te surrupiar.
É isso ou ficar mudo.
Sem mimimi.
Mas, pera, não é disso que eu tô falando.
Nem de direitos autorais na era digital. Nem da ABNT da citação da fonte. Nem da perda da aura. Nem vou chamar Susan Sontag. Nem tenho gabarito pra isso.
Tô só falando de mim.
De como foi encontrar a minha calcinha bege na gaveta de outra pessoa.
A minha foto, o meu olhar cotidiano, o meu ângulo da vida, o meu fragmento de realidade. Meu. Da minha biografia.
Mas foi pro no mundo. Agora é de outra pessoa.
E não porque ela também viu do mesmo ponto de vista. Mas porque ela gostaria de ter visto. E fez tudo errado.
Então deixo ela.
Só que da próxima vez, baby, dá o crédito. Cita a fonte. Dá um toque. Sinal de fumaça. Uma arrobinha. É de bom tom. Faz sorrir. Vira homenagem. Soma. Canta pra subir.
Vaidade? Não. Caráter.
Porque não adianta subtrair.
Pro bem e pro mal.
O meu olhar.
Você nunca vai ter.
…
Ah, e experimenta só pegar uma foto melhor.
Uma calcinha colorida. Pra você ver.
(assim diz o signo solar)
Foto: Peanuts na internet > itsburied | Tumblr. Já o ícone de repost é do iTunes (não sei se é domínio público, na dúvida eu cito). 😉
Até então ela só conhecia a turma do Atchim e do Soneca. E aqueles de jardim.
E #vou_tecontar que foi numa loja de departamentos que ela viu desenho virar verdade (não, não tem delegacia na minha história, anão em delegacia é coisa de hoje em dia).
Era Mesbla ou Mappin, não sei bem. A menina de uns 7 anos corria entre as araras. Mergulhava em tecidos, cores e texturas, enquanto a mãe escolhia algumas peças em tricô.
Era inverno em São Paulo e havia um mundo no meio daquele imenso guarda-roupa precificado. De cabide em cabide, a garotinha dançava (sim, tem anão e dança na minha história) e escolhia o figurino de sua estreia. Seria cantora, tipo a Madonna. Usaria preto, botas de couro e um casaco de pele.
Mas a canção era “Tuuuuudo Azuuuul, Adão e Evaaaa no Paraísooooooo…”. Porque a Madonna dela não cantava em inglês – ainda. E era inspirada no Pablo, de “Qual é a Música”.
E pra você entrar no clima, sugiro clicar nessa trilha aqui, olha:
Entre um Atchim e outro (não era anão, era ácaro), um flash do espetáculo. Agora só faltava a maquiagem. Um olho na mãe e outro no espelho e, nossa, que nariz vermelho. Não sabia inglês, mas já sabia o que é rinite. E que antialérgico dava Soneca.
Estava em bica, precisava assoar aquele nariz. Não podia entrar no palco daquele jeito, ranhenta. Só a mamãe poderia salvar o show.
Foi aí que aconteceu. Ela deu de cara com um anão. Um de verdade. A mãe ao lado e ela não desgrudava o olho daquela figura inédita. Não era o Atchim, não era de jardim. E num só instante, gritou pra mãe:
– Mãe, é um velho que não cresceu ou uma criança com cara de velho?
…
A mãe?
Fingiu que não conhecia aquela criança, que não era com ela, que nunca viu mais magra e mal educada. Até o anão ir embora.
Depois toca explicar pra criança que não se pode ser sincera sempre e que, de castigo, ela ia ficar sem comprar figurinha por uma semana. Figurinha era moeda corrente. Já o “politicamente correto” ainda não era moeda corrente no Brasil de 80.
Esses dias fui ao cinema. Era Woody Allen <3, muita emoção.
#vou_tecontar que eu tava atrasada, o filme começando, aquela correria. Compra ingresso, pega água, pipoca média, um guardanapo, dois, coloca sal e… ops, era adoçante no envelope.
A-DO-ÇAN-TE.
Me doeu na consciência.
Porque errar com Woody Allen é pior que errar na final do Masterchef. Eu acho.
Ainda por cima derramei bem derramadinho, sabe assim, pra espalhar bem direitinho? Me fala quem foi que teve a ideia de colocar os envelopinhos de sal e adoçante lado a lado pra confundir a gente?
Ok, sem tempo pra lamúrias, peguei o sal de verdade, entrei na sala escura, cadê o meu lugar? Tinha gente. Pedi licença, sentei. Repirei.
Puxa, esqueci o óculos em casa. Mas tudo bem, eu consigo ver sem óculos, uso mais pra delinear os detalhes, as expressões, Woody Allen merece. Merece tudo. Merece pipoca, água mineral Evian (mas era Minalba, acho), óculos, casaco, até cobertor merece – mas isso eu não levei.
Ele só não merecia o meu erro. Merda, a pipoca ficou doce. Doce e salgada. Uma droga.
O filme andando e nada da pipoca se decidir. Peguei do meio, peguei da lateral, peguei do fundo… que droga de adoçante. Esse Linea tem mais presença do que qualquer sal Cisne que eu conheço. Até o piruá – a pipoca que não virou, ou seria a que se matou? – , tava indeciso.
Tá, eu ri.
Da pipoca, de mim mesma, do filme.
Ficou tudo assim-assim. A pipoca meio doce. A Emma Stone meio sem sal. A barriguinha do Phoenix com metade de açúcar e a outra metade de sal – bem adequado, aliás, pro papel. A professora Rita podia mais, tanto faz se açúcar ou sal, mas faltou. Já a filosofia toda ficou meio anêmica, tipo eu.
Decidi matar o saco de pipoca como um desafio até o fim do filme. E fiquei com sede. De mais. Diverti mas não surpreendi.
Só que é Woody Allen, então vale. Até com pipoca mais ou menos.
Qual era o nome do filme?
Acho que era A Lília Irracional.
Aquela que não consegue regular o açúcar e o sal.
Ops.
Ah, pega aqui o trailer do filme. Vale ver. Porque é Woody Allen <3.