Missa de primeira comunhão, década de 80.
Enquanto eu #vou_tecontar, sugiro que você coloque essa trilha aqui:
Ela estava longe dali. As palavras do padre não colavam naquela menina que foi ao catecismo para agradar a mãe.
Até gostava da capelinha, era simples, tranquila e cheia de plantas. A professora se chamava Tia Márcia e tinha cabelos bem armados, até parecia a Claudia Raia (Tancinha) na novela. Ela não era chata, mas também não era legal. E não sabia responder algumas perguntas dos alunos.
Uma vez a Tia Márcia expulsou um menino porque ele falou palavra feia na aula. Foi um escândalo. Quem não escutou ficou sabendo.
“Nossa, ele disse palavrão dentro da capela, a casa de Deus!”
Deu pena porque, afinal de contas, se Deus era bom como a Tia Márcia dizia, por que ele não perdoaria o palavrão do menino? Mas a professora não perdoou. Ela ficou mais brava que Deus!
Entre cópias de trechos do Testamento no caderno capa dura e desenhos com passagens da Bíblia, ela gostava mesmo era dos intervalos porque subia nas árvores.
Durante as aulas, achava muito estranho porque não conseguia sentir o coração aquecido e a presença de Jesus ali, como a professora dizia e os coleguinhas assentiam. Se concentrava esperando alguma sensação física e… nada acontecia. Mas isso ela não contava pra ninguém porque, afinal, não queria ser a única criança que não tinha Jesus no coração!
No dia da foto também não sentia nada novo, o coração estava normal.
E mal escutava o que dizia o padre bem velhinho.
Ficou um tempão reparando nas pessoas. Percebeu que seu vestido estava com a barra curta demais em relação às outras meninas (dava pra ver a canela) e a coroa posicionada errada, tipo camponesa e não princesa, como as amiguinhas. Sem falar no cabelo que não assentava direito, ainda que tivesse escovado bastante. Só anos depois aprendeu que cabelos finos e ondulados como os dela devem passar longe da escova quando secos – se quiser evitar parentesco com Gal Costa.
Voltando pra missa, foi a primeira e provavelmente única vez que experimentou a hóstia. Fez o que mandaram naquele ritual, confessou pro padre (que parecia não ouvir nada) que pecou: brigou com a irmã que a provocou e estudou menos do que devia para tirar dez na escola.
Dois “Pai Nosso” e três “Ave Maria”, e ainda bem que ele não pediu “Salve Rainha” porque essa ela nunca soube de cor.
Amém.
Foto: arquivo pessoal.