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O primeiro anão a gente nunca esquece

Até então ela só conhecia a turma do Atchim e do Soneca. E aqueles de jardim.

E ‪#‎vou_tecontar‬ que foi numa loja de departamentos que ela viu desenho virar verdade (não, não tem delegacia na minha história, anão em delegacia é coisa de hoje em dia). 

Era Mesbla ou Mappin, não sei bem. A menina de uns 7 anos corria entre as araras. Mergulhava em tecidos, cores e texturas, enquanto a mãe escolhia algumas peças em tricô.

Era inverno em São Paulo e havia um mundo no meio daquele imenso guarda-roupa precificado. De cabide em cabide, a garotinha dançava (sim, tem anão e dança na minha história) e escolhia o figurino de sua estreia. Seria cantora, tipo a Madonna. Usaria preto, botas de couro e um casaco de pele.

Mas a canção era “Tuuuuudo Azuuuul, Adão e Evaaaa no Paraísooooooo…”. Porque a Madonna dela não cantava em inglês – ainda. E era inspirada no Pablo, de “Qual é a Música”.

E pra você entrar no clima, sugiro clicar nessa trilha aqui, olha:

https://www.youtube.com/watch?v=6xfgoACLkc4

Entre um Atchim e outro (não era anão, era ácaro), um flash do espetáculo. Agora só faltava a maquiagem. Um olho na mãe e outro no espelho e, nossa, que nariz vermelho. Não sabia inglês, mas já sabia o que é rinite. E que antialérgico dava Soneca.

Estava em bica, precisava assoar aquele nariz. Não podia entrar no palco daquele jeito, ranhenta. Só a mamãe poderia salvar o show.

Foi aí que aconteceu. Ela deu de cara com um anão. Um de verdade. A mãe ao lado e ela não desgrudava o olho daquela figura inédita. Não era o Atchim, não era de jardim. E num só instante, gritou pra mãe:

– Mãe, é um velho que não cresceu ou uma criança com cara de velho?

A mãe?

Fingiu que não conhecia aquela criança, que não era com ela, que nunca viu mais magra e mal educada. Até o anão ir embora.

Depois toca explicar pra criança que não se pode ser sincera sempre e que, de castigo, ela ia ficar sem comprar figurinha por uma semana. Figurinha era moeda corrente. Já o “politicamente correto” ainda não era moeda corrente no Brasil de 80.