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Eu vi 2015 se espatifar na minha frente

2015, a caneca, eu e o chá de hortelã.
2015, a caneca, o chá de hortelã e eu.
 
 
Eu acabei de ver 2015 se espatifar na minha frente.
Sim, eu acho que sim.
Eu acho que foi ele e #vou_tecontar como foi.

Estava eu fazendo meu suco verde. Que na verdade não era verde porque acabou a couve. Mas tinha pepino, maçã, beterraba, cenoura e laranja. Então era mais um suco vermelho.
Estava eu fazendo o meu suco vermelho, quando abri o armário pra pegar um copo. A porta da esquerda capengou, a dobradiça do alto se soltou. Dei um jeito de apoiar a porta da esquerda na da direita – acreditei que esquerda e direita poderiam se equilibrar, que ingênua – e peguei o copo. Escolhi o copo verde pra ajudar na intenção do suco. Botei o suco no copo. E pensei em providenciar eu mesma o conserto da porta. Se eu já troquei uma válvula hydra poderia muito bem consertar a porta do armário. Porque depois que eu troquei a válvula hydra me empoderei e acho que sou capaz de tudo. Daí eu bebi o copão verde de suco vermelho. Tava bom, tava gelado, almoço de verão. Daí já lavei o juicer e lavei o copão. Abri o armário pra guardar o cop…

Foi aí.
Foi nesse instante que 2015 desabou.

A porta esquerda do armário soltou, mas dessa vez soltou a folha inteira de uma vez. Mais ou menos na altura da minha cabeça, a porta branca do armário da cozinha decidiu se jogar. Cansou da vida, cansou de 2015, au revoir. E ela se jogou de um jeito difícil de explicar, ela estava cheia de vontade, sabe? E pra cima de mim. Aquela coisa branca e dura com mais ou menos um metro de altura e uns 45 cm de largura, eu não medi, mas acho que é isso. Ela se desprendeu da sua base e se lançou ao ar. Mas não veio sozinha. Porque ela meio que se contorceu no voo e puxou algumas coisas que estavam dentro do armário. Parecia decidida a não terminar em vão esse 2015. Eu ia segurá-la, mas (eita, Giovana!) o estrebuchamento foi tanto que não consegui. E minha atenção se voltou pra comissão de fundo. E enquanto a porta suicida se debatia em meu braço direito e depois enchia a quina no ossinho esquerdo do meu quadril – e esse doeu, doeu à la 2015 – logo veio a caneca. Era minha caneca preferida. A caneca dos cachorrinhos. Aquela que eu gosto(ava) pra tomar chá de hortelã. Eu vi a caneca e enquanto puxava meu pé esquerdo pra porta em queda livre não me aleijar na saída, os cachorrinhos rodavam no ar em direção ao chão. Um giro completo e eu vi, em câmera lenta – parecia lenta, juro, parecia filme -, eu vi ela se aproximar do chão de asinha pra baixo e previ o estrago.

Eu desejei um controle remoto, eu queria voltar a caneca na prateleira, a porta no lugar, eu não queria aquilo que ia acontecer no chão da cozinha, eu não queria perder os cachorrinhos, eu não queria esse monte de coisa chata e triste que aconteceu em 2015, eu não queria, poxa!

Mas em menos de dois segundos, acho que em menos de um segundo, talvez até menos de meio segundo, eu não sei – a gente não consegue mensurar o ano tempo nessas horas, só sei que foi depressa demais, depressa a ponto de eu não conseguir evitar -, a caneca, o 2015, a coisa toda se espatifou no chão.

Alguns segundos de silêncio e eu fiquei tentando dimensionar o estrago.

Em mim, no chão, no armário, em 2015. 
A porta caída à esquerda, um prato quebrado aos meus pés e não havia mais cachorrinhos pra hortelã. O que foi uma caneca de 2015 já havia se espatifado em muitos e muitos pequenos pedaços. Tantos que não foi possível nem usar vassoura. Precisei de aspirador pra tirar os resíduos e o pó de caneca que se espalharam pela cozinha até alcançar a sala.

Mas eu limpei.
E bem limpinho, sabe?
Porque dos estilhaços de 2015 eu não quero levar nada.
Nem poeira.


Foto: arquivo pessoal.