E antes que você pense que eu sou a pessoa mais solitária desse mundo e role a página em busca de coisa mais interessante, #vou_tecontar que esse texto poderia ser seu também.
Me diz: seu telefone fixo… ainda toca?
Tô falando do bom e velho Graham Bell.
Por aqui, nem minha mãe me liga mais – agora ela manda whatsapp. E é daquelas não sabe usar direito o aplicativo. Do tipo que escreve “Oi” e some, vai fazer outra coisa. E me larga no vácuo. Ou então envia mensagem de madrugada perguntando se estou em casa. Tava dormindo.
Tava.
Esses dias decupei minha conta de telefone fixo. Eu mesma fiz três ligações no mês. Pra vovó. Só. Deduzi que tô rasgando dinheiro com a porcaria da franquia da NET. Porque a vovó tem Facebook. E usa o inbox com desenvoltura.
Semanas atrás aconteceu. Eu tava quase de saída pro trabalho quando o telefone tocou. Levei um sustinho e três segundos pra lembrar que aquele som pouco familiar significava alguém ligando. Seria uma emergência na família?
Nada. Telemarketing.
É batata: se o telefone toca de manhã pode apostar que é uma mocinha “querendo estar te vendendo” alguma coisa à moda antiga. Mas até isso tá virando raridade.
A última vez que o fixo tocou em casa e era MESMO pra mim foi a secretária da dermatologista querendo confirmar a consulta. Coisa de dois meses atrás.
O fato é que nem a turma de Bangu me liga. Do presídio, sabe? Pois é. Eu que sempre tinha uma resposta pronta pra dar, nunca mais xinguei ninguém (na linha). O meu clássico era atender aquela moça que gritava “Mãe, socorro, me ajuda, mãe, me pegaram!”. E eu dizia “Vai pro inferno porque não tenho filha com essa voz desafinada”.
Nunca mais.
O celular ainda toca – quando não fica no silencioso. Toca aquele barulhinho do whatsapp, das mensagens do inbox. E tem o plim do SMS… de vez em quando – e cada vez menos. Geralmente é o Itaú avisando da compra autorizada, mandando o IToken, ou então a Vivo com o código da fatura ou avisando “o uso do Vivo internet está perto de atingir o limite…”.
Outro dia fui até assediada por uma mensagem de texto. Da Claro.
É.
Passeios, convites, jantares, cineminhas, festinhas, novidades dos amigos, da família, tudo agora é conversado por whatsapp. Em grande volume de dados. Maravilha da tecnologia. Fato.
Mas vamos combinar: sem a emoção das oscilações no tom de voz. E sujeito ao tédio eterno do emoticon mal empregado.
Pensa só: a sedução de uma voz rouca te chamando pra sair perdeu espaço pra convite-clichê com erro de concordância.
Em contrapartida, com direito à ilustração, mapa e trilha sonora. Streaming lovers!
Onde será que habita hoje aquela ansiedade pelo toque de um telefone tradicional?
Em dois tracinhos ao lado da mensagem? Nos três pontinhos na caixa de um texto em produção do outro lado da tela? E a raiva do tom de ocupado, pra onde foi? Porque não existe mais ocupado. Existe “fora de área” ou “sem bateria”.
E assim o coração pulou da boca pra ponta do dedo.
Agora é coração touch o coração da gente.
A verdade é que ninguém mais gasta o real da ligação. Nem quando é grátis pra mesma operadora. Telefonema tradicional parece que não cabe mais na vida pessoal.
Ah, mas o whatsapp tem a função de voz.
E aqui preciso explicar que escrevi esse texto antes de existir a função de ligação pelo whatsapp. Nova maravilha da tecnologia que cai em três a cada três tentativas, mas que eu já amo de paixão.
Tem. WhatsApp tem função de voz. Só que é meio que função monólogo, né? Não permite interrupção da frase, não permite um “uhum” do outro no meio da história, uma risada, um suspiro, uma interjeição, o bom e velho “não me diga!”. Sem falar no risco de alguém ao lado escutar (e editar) a bobagem da vez. Porque 80% das mensagens de voz são besteiras para alegrar o dia, né?
Agora, se o papo é grave, oceânico, importante, saudoso ou uma DR, ufa, temos o Skype e o Facetime. O olho no olho virtual. E abaixo o interurbano!
Outro dia eu tava num restaurante com uma amiga e ela teclava com um prospect arrebanhado no Tinder. Do cardápio virtual pro cardápio real, eis que a menina me arregalou os olhos desse tamanho quando o moço mandou um “Posso te ligar?” Viva, um rapaz à moda antiga! Quase brindamos a isso. Ele ganhou pontos, marcou um date e já tem o meu voto. Defendo que ligação não tem nada a ver com intenção, mas desconfio até que é candidato a dividir com ela o combo da net (e aqui faço uma homenagem).
Não, eu não tenho nada contra as mensagens de texto. Ao contrário, sou usuária assídua.
Só bateu uma nostalgia hoje. De construir imagens a partir do som de uma voz no ouvido. De olhar pro céu e não pra tela enquanto escuto uma história.
Mas, quer saber? Tô achando é que vou cancelar o telefone fixo.
Só vou esperar passar o aniversário porque… né?
Vai que!
Imagem: singletrackworld.com