Briga de casal

Aconteceu uma coisa desagradável.

Uma briga de casal.

E enquanto eu #vou_tecontar você pode clicar nessa trilha sonora aqui:

Tudo começou porque a minha geladeira estava vazia. O que por si só já é desagradável – e geralmente acontece de segunda a sexta e se repete sábado e domingo.

Pra quem se comoveu, doações podem ser combinadas por e-mail.

Mas o fato é que eu saí pra comprar o jantar. Quando abri o portão, tinha um moço engomado do lado de fora.

– Você vai entrar? (perguntei, gentil, segurando o portão)

– Ah, sim, é que estou… esperando a minha namorada. (ele pronunciou “mi-nha-na-mo-ra-da” em alto e bom som, saboreando cada vogal e consoante) 

Ou seja, namoro novo.

Eu quis ser legal, tava frio, deixei ele entrar:

– Então vai lá. (sorri)

E acho que ele levou ao pé da letra.

Enfim.

Eu fui num pé e voltei no outro. Quando abri o portão na volta, jantar na mão, trombei com um rapaz (outro) que saía apressado, todo mal educado. Entrei no elevador e, conforme subia, entre o segundo e o sétimo andar, escutei o eco de um quebra-pau. Daqueles.

Da-que-les!

Daí fui juntando palavras soltas: “Não acredito”, “você fez isso”, “um cara”, “sua casa”, “te esperando”, “sou idiota”, “#@$/&*”.

Paca, maca, caca, não… foi “vaca” mesmo.

É.

Daí deduzi o resto. Ou o possível resto. Ou seja, tudo o que aconteceu nos minutos entre a chegada do moço engomado e a briga. Entre um pé e outro da compra do meu jantar.

Possível versão: o engomado novo chega inesperadamente porque alguém-EU abre o portão pra ele. Ele sobe e encontra o “outro” lá, na casa dela. Azedou. (detalhes sórdidos por sua conta)

Mas tô até agora tentando criar outra versão. Uma versão em que eu não me sinta… culpada.

Tipo: coincidência.

O casal da briga na verdade é outro casal, num dia de fúria, e não tem nada a ver com o moço engomado do portão. E o rapaz que eu vi sair é só o irmão mal humorado da vizinha chata do nono andar. Porque ela tem mesmo cara de quem tem um irmão mala.

Ou então: um engano.

O engomado deduziu um flagra que não existiu, pois se tratavam apenas de dois bons grandes amigos de infância se abraçando em despedida.

Pode ser!
Não pode? …

Certeza?

Poxa, gente, eu abri o portão.
Eu disse: “vai lá”.
E ele foi.

Seria razoável dizer que o problema todo foi… a geladeira?

Agora não sei.
Mando flores pra vizinha?
Dou um abraço?
Bolo de chocolate?

Não consigo parar de pensar no moço engomado no portão.
Articulando com fé e orgulho:

“mi-nha-na-mo-ra-da”.

Pena.