O desastre sou eu

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Eu derrubei suco de uva no tapete da sala. Chutei o copo. Tenho mania de deixar copo no chão, ao lado do sofá, sabe? Chutei o copo e ele virou. #Vou_tecontar que o suco derramou todo em cima do tapete, por entre o barbante e ainda escorreu todinho pelo chão. O copo estava cheio. O suco era bom.

E de repente eu tinha 10 anos de idade. Olhando aquele suco arroxeado que eu derrubei em cima do tapete da minha mãe. Na sala de casa. Era noite. E a sensação foi exatamente igual. Um choque percorreu o meu corpo quando vi o do líquido roxo sobre o tapete claro. O estrago feito. Será que mancha?

Hoje existe Vanish, o poder O2. Quando eu tinha 10 anos, não.

Eu tinha 10 anos e a culpa não foi minha. Foi ela que me provocou. A irmã mais velha, claro.  E ainda fez terror psicológico. Disse que a mancha não sairia nunca mais. Que a mamãe ia ficar muito brava. Que o tapete era de estimação. E que ia dizer que eu fiz de propósito. Foi tanta informação que eu escrevi uma carta. Uma carta pra minha mãe. Pra quando ela chegasse da festa, tarde da noite, soubesse por mim a verdade dos fatos. Lembro que escrevi com lapiseira 0.5, contei que não tive culpa e pedi que me perdoasse. 

Tentei ficar acordada pra explicar a carta. Criança redundância. Só que não aguentei. O sono venceu. Mas eu dormi com medo. Não da bronca, mas da decepção da minha mãe pelo meu desastre.

Hoje também foi um desastre. Mas hoje foi tudo culpa minha. Eu sou o desastre do tapete da sala, agora meio roxo, dentro do balde, com sabão em pó e Vanish poder O2.

Eu sou um desastre e de repente parece que os meus copos derramam para além dos tapetes, com gotas que não saem com o poder limpador e deixam marcas por toda parte.

A minha mãe não liga pro tapete da sala, acho que nunca ligou. Ela não brigou, não se decepcionou quando eu tinha 10 anos. E na casa dela hoje nem tem tapete. Mas o meu tapete de barbante foi ela que fez. Esse que tá dentro do balde, ainda meio roxo (acabei de olhar) com sabão em pó e Vanish poder O2 (dei uma chacoalhada pra ver se rola um efeito).

Mãe, a culpa foi minha. Hoje foi. 

Eu não tenho lapiseira 0.5, mas tô escrevendo no iPad. 

E toda vez que eu chuto um copo ou meu copo transborda, eu tenho insônia. Só quero não me decepcionar com o meu desastre. Como quando eu tinha 10 anos. 

Naquele tempo não tinha Vanish poder O2. Mas era tão mais fácil acordar no dia seguinte.

 


Foto: Vanish Brasil.

PS. Juro que não tem jabá. Mas depois eu conto se a mancha saiu.

 

 

 

 

Você não quer, tem quem queira

Rejeitada.

É como eu tô me sentindo hoje, desde umas 19h15 pra ser mais exata. Foi quando entrou na minha caixa de e-mail o orçamento do seguro do carro.

E #vou_tecontar que não é a primeira vez.

Tem acontecido todo mês de fevereiro. Desde 2011.

Lembro de cada episódio, de cada expectativa seguida de frustração. Porque rejeição a gente não esquece, né?

Pois é. A Porto Seguro não me quer.

Ela me rejeita. Todo ano eu tento, negocio, peço ajuda do corretor, mostro meus predicados e minha CNH limpinha. Mas ela sempre me manda um valor mais de R$ 1 mil acima da concorrência. Tipo um recado: “não feche conosco, não te queremos, aqui você é persona non grata”.

Gente, por quê?

Eu juro que queria entender o motivo de tanto desinteresse na minha pessoa. 

Alô, sou moça direita,  dona Porto Seguro!

Há pelo menos 5 anos  que não registro um sinistro. Eu não bato lata em ninguém. Nem tomo. Sou boa motorista, embora a amiga diga que eu dirijo feito homem. Sou prudente e dou seta – sim, eu dou seta, dona Porto Seguro! Eu não atravesso farol vermelho antes das 23h. Não estou na faixa etária de risco. Tenho garagem em casa e estacionamento no trabalho. Eu pago os impostos em dia. Eu quase não tomo multas, só vez ou outra tenho problema com o velocímetro, coisa besta. Meu carro não é visado e eu rodo pouco.

Eu diria que a minha vida sobre rodas é quase um tédio, não fossem as emoções típicas do trânsito paulistano. Então não aceito esse desdém de seguradora. Poxa, sou boa pagadora!

E ainda sou ex-cliente. Sim, eu já fui desejável. Você me tratava bem, na hone$tidade. Fomos felizes por um longo tempo. Fui fiel e devotada desde meu primeiro carro até 2010. Até que naquele ano roubaram meu carro novo. E o amor acabou. Você me rejeitou por um, dois anos e ad infinitum. No começo o corretor disse que era porque perdi bonificação. Mas que o tempo resolveria a questão. Nada. De lá pra cá eu tento uma reaproximação. Em vão. 

Passei por outras duas seguradoras, mas queria você, Porto Seguro. Apesar de que eu nem uso o seguro, mas, sei lá, queria você de volta, só isso. Eu nem dou trabalho, não fico pedindo atenção nem telefono no meio da noite.  A única vez que incomodei sua concorrente nos últimos dois anos foi quando a bateria morreu. Veio um moço de moto e trocou. Cobrou caro. Fim.

Assim você me magoa, Porto Seguro.

Como é que um episódio tão antigo, tão infeliz (porque eu também sofri e tomei prejuízo) pode ter marcado tanto nosso relacionamento?  A ponto de você nunca mais me querer por perto, resistir às minhas investidas e ignorar minha ficha limpa, minha conduta quase impecável.

Olha que eu sei de muita gente que você atende e dirige alcoolizado por aí, com pontuação estourada e manobra alucinada. Não vou citar nomes, mas depois não reclama da crise e da falta de sorte com a clientela.

Anota aí o meu nome, Porto Seguro. Porque você acaba de me perder.

Tentei por 5 anos. Agora eu que não te quero mais!

Sou de escorpião. Não tem perdão.

Amanhã vou abraçar seu maior concorrente. 

Vou ser feliz e quero que você se exploda. 

Digo isso pra não ter que pagar terapia.

Cabô a Rejeição.

Na ordem do dia: você não quer, tem quem queira.