Com você também é assim?

sape

Eu tô cansada hoje. E quando eu tô assim muito cansada não consigo dormir. Então decidi escrever. Pra ver se me distraio do cansaço, se engano (ele) um pouco e o sono vem. Logo mais eu te conto se funcionou. Enquanto isso eu preciso de um tema. Mas eu tô tão cansada que fica difícil pensar num tema. Outro dia mesmo eu tinha um tema, mas esqueci. Eu tinha mais de um, na verdade, tinha uns três temas na fila pra escrever. Porque eu faço uma fila de temas. Mas não é por ordem de tamanho, data ou importância, é por ordem de alguma coisa que eu não sei bem explicar. Talvez ordem de urgência mental, por assim dizer. Urgência pra parar de pensar no tema, descansar e, então, dormir. E tem tema que enquanto eu não escrevo ele não me deixa dormir. Com você também é assim? Mas nem sempre o tema é um tema propriamente dito. Porque o tema deriva das banalices, quotidianezas, amenitudes. Alguma coisa que acontece na rua, na chuva, na fazenda e daí traz consigo um tema. Essa parte da rua, da chuva, da fazenda apareceu assim do nada e eu não sei explicar de onde veio. Possivelmente do meu inconsciente que um dia, lá atrás, registrou um arquivo do show do Kid Abelha. Mas eu não vou entrar no mérito da casinha de sapê porque eu não sou frequentadora. Casinha de sapê até poderia ser um tema, acontece que eu realmente não tenho um fato relacionado que me traga uma insônia, uma urgência, um texto. Então eu vou deixar a casinha pra lá e mudar de assunto assim, do nada. Porque embora eu tenha aprendido na aula de redação da escola que um texto tem que ter introdução, desenvolvimento e conclusão, com as ideias bem encadeadas, quando eu tô assim muito cansada eu nem sempre mantenho um pensamento linear. Na verdade, independente da casinha ser de sapê, de tijolo ou de lata, eu não costumo ter um pensamento linear. Nem mesmo quando eu não estou cansada e quando estou com sono em dia. E quando eu sonho, eu sonho bagunçado também. Com você também é assim? Pois eu raramente lembro de um sonho. Às vezes lembro de pesadelo. Mas é sempre coisa caótica, com um pé nonsense e outro manco. Mudam os personagens, o enredo, o tempo-espaço. Assim, do nada. Feito sapê que vira lata. Eu quis dizer um sapê que se transforma em lata e não em cachorro ou gato vira-lata, deu pra entender essa parte? Tem frase que engana, né? Mas eu gosto. Eu gosto de deixar a interpretação em aberto e a pessoa entende o que quiser (e aqui eu lembrei de um tema da lista pra usar outro dia). A pessoa também pode ir e voltar no texto, assim, do nada. Agora, por exemplo, você pode voltar na primeira menção à casinha de sapê. Depois você pode pular pra primeira frase e você vai reler que eu tô cansada hoje. E talvez você, então, tenha um nível de tolerância maior com a minha falta de tema e o meu pensamento não-linear. Talvez você não siga pra reta final deste texto, cogitando que está perdendo o seu tempo e que este deve ser o pior texto que eu já escrevi. Talvez sim, talvez seja. Porque hoje eu estou cansada. E talvez você, então, me perdoe por isso. Porque, juro, tudo o que eu queria agora é que essa droga de música saísse da minha cabeça! Com você também é assim? Ela chega do nada, gruda e não te larga mais? O fenômeno acontece principalmente quando estou muito cansada e geralmente com repertório duvidoso. Porque se eu pudesse escolher, queria que grudasse, sei lá, uma melodia do Miles. Porque até ajudaria a relaxar e embalar meu sono. Mas me vem a porra da casinha de sapê. Quando não vem coisa pior. É feito pesadelo nonsense manco. Tipo um texto sem tema e não-linear. Ou um cansaço que não te deixa dormir. Como você também é assim? Olha, acho que agora tô me sentindo um pouco melhor, tô tomando chá de hortelã e acho que seu deitar a cabeça no travesseiro pode até ser que eu consiga dormir. Por isso não vou nem revisar o texto e espero que você releve qualquer erro-fruto do meu cansaço. Mas, ei, se você ainda estiver por aí, posso pedir só mais uma coisa? Canta uma musiquinha pra eu dormir? Só não vale aquela, combinado?

Ah, #vou_tecontar que eu não vou colocar aquela música como trilha do texto. E não faço isso só por mim, não. Mas pra evitar que ela grude em você também.

De nada.


Foto: youtube.com.

 

O terrorismo sob o olhar de uma criança

Padaria em Pinheiros, São Paulo. A TV ligada fala sobre Estado Islâmico, ataques terroristas, homens bomba, recrutamento de jovens.

Na mesa ao lado, uma família:

– Pai, por que é que eles explodem e matam as pessoas?
– Porque eles são inimigos e são muito malvados, filho.
– E os pais deles não colocam eles de castigo?
– É que eles vivem muito longe do pai e da mãe.
– E se a gente arranjar uma família pra eles?
– Acho que eles não querem fazer as pazes. É por isso que a polícia está atrás deles, entendeu?
– E se a gente emprestar o videogame pra eles? Eles podem explodir e lutar sem machucar ninguém, né?

 

<3

 

É.

meu aniversário é na semana que vem

A persistência da memória, Salvador Dalí
a persistência da memória, Salvador Dalí

meu aniversário é na semana que vem. legal, vai acabar o inferno astral. tá, eu gosto de receber o carinho das pessoas. sim, eu aceito presentes. não, eu não gosto da passagem do tempo. ou melhor, eu não gosto de ver o tempo encurtando na frente e esticando pra trás. ou seja, eu não queria fazer aniversário. verdade, eu só queria uma outra dose de tempo. sabe, não é pelo colágeno que escorre pela mão. é que eu plantei a árvore, mas não fiz o resto da lição. não conheço uns continentes. nem experimentei o suficiente. tenho histórias me esperando. alguns projetos pra executar. e um rumo para encontrar. juro, eu não quero chegar antes, só aproveitar mais o caminho. até tenho algumas metas, mas sou o pior chefe que eu podia ter. daí o presente que eu queria mesmo ninguém pode me dar. tipo uns anos de brinde. então vou aceitar o calendário e brindar a passagem do tempo. porque não há nada que eu possa fazer. é bom mas é uma droga. entende? se vc não entende, sorte a sua. do contrário, que bom e que droga que vc me entende.

 


Foto: obviousmag.org.